terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

UM NOME BEM PECULIAR



Fiquei a me questionar: com qual a real intenção foi colocada essa palavra em um produto alcoólico, em um País que incentiva a propaganda alcoólica para jovens através das mídias televisivas, em que a violência proporcionada pelo álcool cresce em proporções alarmantes, com a apatia total dos governantes, gerando sofrimento de milhares de famílias pelas perdas dos familiares.

Outrossim é interessante o significado dado a essa palavra pelo dicionário Houaiss: devassa pode ser adjetivo ou substantivo. No masculino é devasso. Seria aquele que é lasso, libertino, licencioso.

Agora, o mais interessante é o grande número de sinônimos dessa palavrinha, a qual é quase um palavrão: alegre, azevieiro, bandalho, bargante, bragante, brejeiro, sairoso, desavergonhado, descarado, desenvolto, desenvoltoso, desgarrado, despudorado, desregrado, dissipado, dissoluto, erótico, fescenino, frascário, frio, hediondo, imoral, impudente, impudico, incasto, inconveniente, indecente, indecoroso, intemperante, lascivo, libertino, libidinoso, licencioso, lúbrico, magano, meço, molita, obsceno, pático, pervertido, pornográfico, rigolboche, sacana, safado, salaz, sem-vergonha, sensual, sórdido, velhaco, voluptuoso.

Enfim, para certos grupos e tribos de jovens devassos, os quais integram a atual conjuntura social e econômica, até que esse nome veio a calhar!

A EDUCAÇÃO, A VIOLÊNCIA, A INDISCIPLINA

Ao acompanhar um parente para ser matriculado em uma escola pública, a qual é sustentada pelos altos impostos que os brasileiros estão a pagar, me deparei com um visual muito comum nas grandes cidades do Brasil e que, por estas terras, até que demorou a chegar, mas que ainda me causa indignação.
Indignação que, pelo visto, muitos pais já perderam esta nobre capacidade de se indignar e permanecem em um estado de letargia frente às pichações grotescas nas paredes, não só desse estabelecimento, mas em dezenas de outros centros educacionais.
Até mesmo dentro das salas de aulas, acabei observando a existência de fechaduras quebradas, portas quebradas, cadeiras inadequadas ou quebradas e muita pichações, as quais fazem referência à pornografia, violência, e porque não, até mesmo as drogas. Em tese, esse centro de excelência educacional público, bem como muitos outros, estariam preparando os futuros cidadãos para um mundo cada vez mais competitivo, informatizado e robotizado, mas o que se vê em um grande numera de escolas, infelizmente, é exatamente o contrário, mesmo com o esforço hercúleo de muitos bons professores idealistas.
Através dessas pichações percebe-se, de maneira perfeita, a falta de disciplina e a anarquia instalada em milhares de escolas pelo País a fora e, o pior de tudo, a formação educacional básica ministrada pela família, com destaque para a monoparental em termos estatísticos, deixa transparecer a falta de valores éticos e morais mínimos, os quais deveriam de ser aplicados dentro das salas de aula e fora delas.
Por mais que as autoridades educacionais tentem minimizar ou esconder, a falta de respeito para com os professores, as contravenções e os crimes perpetuados por alunos desajustados para com a sociedade, são cada vez mais notórios e chegam ao ponto de prejudicar até mesmo aqueles alunos que ainda querem aproveitar os conhecimentos ministrados.
Em muitas escolas públicas, os professores que ainda têm a coragem de enfrentar essas atitudes de desrespeito, em alguns casos, correm risco até mesmo de vida, além do mais, apesar de não ser a regra geral, muitos pais despreparados se antecipam, condenando os professores, pois os seus filhinhos sempre estão com a razão, mesmo que tenham cometidos atos ilícitos revoltantes, como por exemplo, atear fogo em pessoas esquecidas pela Estado por puro prazer.
Em alguns casos, os professores são até mesmo aconselhados pela direção (cargo de confiança dos que estão no poder) a fazerem vista grossa para evitar problemas administrativos, pois o professor tem tudo para perder, caso comece a agir com disciplina e crie problemas para a falsa imagem de tranqüilidade que as autoridades tentam disseminar pelas mídias.
Outrossim, muitas leis dúbias, formuladas pelos que se dizem representantes do povo, acabam favorecendo os crimes perpetuados por menores de dezoito anos e até mesmo por crianças. Essa sensação de impunidade do menor infrator acaba por refletir nas escolas, pois fica cada vez mais difícil um professor dar um simples flagra em alunos acostumados a colar, sem correr riscos de ser processado por constrangimento ou até mesmo de sofrer uma agressão física ou material, ou ainda, simplesmente, perder a própria vida.
Esses fatos trágicos, muitos dos quais acabam sendo publicados em jornais regionais, internet e muito pouco nas mídias televisivas, estão levando muitos bons professores a trocarem de profissão, pois os riscos não compensam para uma profissão tão mal remunerada e perigosa, a qual, outrora, era muito concorrida pela importância e respeito que possuía junto à sociedade e perante a Nação.
Em contrapartida temos, cada vez mais, professores despreparados e estressados devido às condições de trabalho, a falta de respeito e ameaças contínuas a que são submetidos diariamente por alunos devassos. 
Vejam, que em 1960, quando um pai era chamado pelo professor para queixar-se do aluno libertino, devasso, ou licencioso, a última coisa que esse pai faria, seria acreditar na versão do filho, o qual receberia algum tipo de sanção tanto da escola como do pai. Hoje a situação está completamente invertida e a criminalidade, o desrespeito, a devassidão e a falta de educação estão a aumentar em proporções assustadoras entre crianças e adolescentes.
Professores e pais já perderam, há muito tempo, o fio da meada dos bons princípios familiares graças à letargia e a incompetência de muitas autoridades governamentais do Estado democrático e de direito, frente à globalização e o consumismo desvairado do capitalismo predador.
Algumas das conseqüências dessas mudanças podem ser observadas em muitos colégios públicos e até mesmo nos privados. São alunos pouco pensantes, com uma consciência um tanto obtusa, muito pouco atuantes e com pouca capacidade intelectual.
Na realidade, nada justifica que a educação pública, após o fim da ditadura militar, tenha se tornado em algo muito pior, ou será que o objetivo maior agora é a criação de massas de manobras fáceis para os políticos oportunistas e corruptos, sob os aplausos de organismos internacionais não democráticos como o FMI, BIRD, Banco Mundial etc...?
Vendo toda essa decadência ética, moral e familiar, refletida em centenas de escolas públicas, por intermédio dos atos dos seus alunos e até mesmo em escolas privadas, algumas perguntas surgem: qual é o verdadeiro objetivo desses últimos governos que permitiram esse descalabro todo, em uma área tão vital para o futuro da Nação? Esta democracia que vivemos é uma farsa? Seria uma democracia seqüestrada, amputada e condicionada, como bem disse o saudoso escritor e prêmio Nobel de Literatura, Jose Saramango, ao se referir à democracia adotada em vários países?
Com um ensino tão decadente em décadas e sem rédeas curtas para conter os alunos que cometem infrações de todo o gênero, o futuro do País está cada vez mais comprometido e aos poucos vai se delineando o seu verdadeiro lugar na nova ordem mundial do novo milênio.
Por esta linha, é interessante comentar que há poucos anos o parque industrial brasileiro era maior que a soma do parque industrial da Tailândia, Malásia, Correia do Sul e China e hoje a participação brasileira é mínima e continuamos a ser aquilo que sempre fomos, ou seja, meros exportadores de matéria prima, com uma taxa de crescimento pífia e uma educação pública ruim.
Por outro lado, a educação pública ministrada na China e em outros países fez e faz a diferença, enquanto que aqui no Brasil os governantes corruptos e demagogos nos proporcionam a decadência do ensino público e o pior de tudo, um estado de anomia está se instalando, paulatinamente, em várias regiões do País, proporcionada pela indisciplina, impunidade, violência, drogas e por famílias deterioradas ética e moralmente.
Enquanto isso, muito entretenimento para os pais, crianças e adolescentes é proporcionado via midiática sob os auspícios dos governos. Temos a bilionária copa de 2014 regada a dinheiro público, Big Brother, a Fazenda, muito futebol, carnaval, cachaça, novelas tendenciosas, jogos eletrônicos, programas fúteis e apelativos, muita propaganda para seduzir os incautos para mexer com a emoção, mas nunca com a razão. Temos até mesmo a propaganda de uma cerveja cujo nome é Devassa.
É nesse cadinho todo, que centenas de professores estão se tornando reféns de alunos indisciplinados, devassos e perigosos, os quais chegam ao fim do Ensino Médio com dificuldades de ler e escrever, mas com o certificado de conclusão do Ensino Médio. Este é o País que os governantes estão formando para as próximas gerações. Perdemos, a mais de trinta anos, o bonde da história, no entanto países como a China souberam aproveitar o momento histórico. É lastimável para nós brasileiros!
Enfim, só para encerrar esse desabafo, a China e vários outros países que souberam aplicar suas leis e seus impostos para uma perfeita educação em respeito a sua juventude e as suas próprias Nações, principalmente nos últimos trinta anos, deveriam de agradecer aos governantes brasileiros pela oportunidade de não terem acordado o gigante que está a dormir eternamente em berço esplêndido, rodeado por corruptores e oportunistas de todo o gênero ao longo dos séculos. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O RETRATO DE UM ATENDIMENTO MÉDICO


          Nesse fim de semana, na madrugada do domingo, acompanhei uma criança, de um ano e meio, com muita dor e aos prantos, para ser atendida no único Hospital exclusivamente para crianças, na cidade de Boa Vista.
          Nesse ínterim, antes de chegar a essa instituição de saúde, a avó, profissional da área da saúde, já tinha feito um exame de percussão, o qual indicava a possibilidade de uma otite.
          Esse hospital é mantido pelo poder público municipal por meio dos altíssimos impostos pagos pelos contribuintes ao município, ao Estado e ao governo federal.
           Ao chegar ao respectivo hospital, já se via o desleixo no saguão de espera, onde circulavam nuvens de milhares de mosquitos do gênero aedes, transmissores da febre amarela e da dengue I, II e III. Tal fato me chamou bastante a atenção pelo descaso das autoridades, mas o pior ainda estava por vir.
         O médico de plantão que atendeu a criança fez a ausculta. No exame de percussão sentiu que poderia ser otite a causa que gerava tanto choro e dor, porém, para a surpresa dos acompanhantes, não utilizou o otoscópio. Ao ser inquirido por um dos parentes, a qual é enfermeira graduada, alegou apenas que o equipamento estava quebrado e que não possuía outro.
         Enfim, após um exame muito superficial, a criança acabou tomando apenas uma injeção de dipirona intramuscular para dor e, o pior de tudo, saiu do hospital sem nenhum diagnóstico. Qual seria o real motivo para que esse médico não gerasse o diagnóstico? Teria esse médico condições de prescrever o medicamento adequado para o caso? Ficou com receio do que?
         Obviamente, em menos de duas horas, cessando o efeito do calmante ministrado, a criança voltou a chorar intensivamente, sentindo muita dor e apresentando um estado febril, já na casa dos trinta e oito graus.
         Desta vez, foi levada pela avó para outro estabelecimento público de saúde do Estado, no qual, por acaso, havia um médico com especialização em pediatria de plantão e, o melhor de tudo, era conhecido da família. O mesmo atendeu a criança de maneira impecável. O diagnóstico foi certeiro, apontando uma aguda otite (inflamação no ouvido) localizada pelo exame de percussão no ouvido e, logo após, certificado pelo otoscópio.
          É interessante observar que a avó da criança realmente estava certa em seu diagnóstico prévio, porém, como enfermeira, não pode fazer a prescrição dos medicamentos.
         Enfim, a criança foi medicada com remédios adequados receitados pelo pediatra e em questão de algumas horas já estava voltando à normalidade, para o alivio da mãe e dos parentes.
        Posteriormente foi detectado que o médico que deu o péssimo atendimento no hospital da criança, sem gerar um diagnóstico, não era pediatra e sim apenas um clínico geral e, pelo visto, bastante negligente. Como pode um clínico geral dar atendimento em um hospital somente para crianças e ainda mais estar de plantão à noite? E o equipamento quebrado? Um hospital desse porte com apenas um otoscópio? Estão querendo enganar a quem? Estão brincando com a vida das crianças? As respostas são óbvias.
         Na verdade, o que se passou com a criança é apenas uma ponta do iceberg nesse imenso Brasil. A realidade das condições de atendimento nos hospitais públicos desmascara a verdadeira face da grande maioria dos governantes das inúmeras cidades brasileiras, bem como de médicos mal preparados e, muitos dos quais, sem a devida residência médica. Tal fato ajuda a contribuir para o grande aumento do erro médico.
         Obviamente, Boa Vista está também incluída nesta ciranda macabra, a qual provoca óbitos e outras seqüelas permanentes causadas pela negligência, imprudência e imperícia de médicos oriundos de faculdades de pouca qualificação.
         Além do mais, por mais que se fale, não há justificativas plausíveis para atendimentos médicos tão medíocres, negligentes e com falta até mesmo de equipamentos básicos em hospitais e quando eles existem muitos são de péssima qualidade e, o mais importante, muito bem subfaturados pelos conchavos realizados nos bastidores da corporatocracia com o poder público à custa do erário público.
           Nesse sentido, as pessoas que possuem a riqueza do conhecimento e uma visão ampliada de cidadania sabem perfeitamente que a arrecadação dos impostos que os brasileiros pagam é uma das maiores do mundo e o retorno é envolto em um mar de corrupção e sem punição rigorosa para os criminosos de colarinho branco.
         Afinal de contas, neste País, só é preso quem quer. Basta ter dinheiro, prestígio ou ser político.
          Em Roraima não é diferente, pois já foram denunciados desvios milionários da área da saúde e o denunciante acabou sofrendo ameaças anônimas, tendo que contar com a proteção da Policia Federal, de acordo com a publicação de uma mídia local, obviamente, ainda não corrompida, pois teve a coragem de publicar.
         E, assim, vamos levando a nossa vida, em meia a tantas denúncias e impunidades, reforçadas pela negligência, imprudência e imperícia na área da saúde e em outras áreas.
         Outrossim, o mais interessante é que os verdadeiros culpados, políticos e apadrinhados de políticos, não estão nem aí para o que a mídia irá publicar, pois já sabem que irão se reeleger assim mesmo, ou, na pior das hipóteses, irão ganhar, dos seus padrinhos, importantes cargos estratégicos dentro da estrutura governamental municipal, estadual ou federal. Irão participar intensamente desta falsa democracia que estamos vivendo.
         Por fim, o reflexo de tudo isto está exatamente na educação pública ministrada, na saúde oferecida ao povo, como no caso da criança atendida no Hospital do município, além do descaso hipócrita para com o crescimento geométrico da criminalidade e da corrupção dos grandes figurões da política brasileira. É o retorno implacável e triunfante do Grande Gatsby, em meio a uma sociedade decadente de valores morais e éticos.