sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

NEGLIGÊNCIA, PREPOTÊNCIA, FALTA DE HUMANISMO E HOLISMO ESTA SE TORNANDO UMA MARCA REGISTRADA POR ALGUNS PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE.

- Infelizmente mais um caso explicito de negligência, prepotência, falta de humanização moderna e holismo por parte de uma instituição privada e por médicos que atenderam o caso de uma pessoa muito chegada a minha família em Boa Vista.

- Por motivos de cautela os nomes dos suspeitos serão substituídos e caso a família se dignar a entrar com o devido processo judicial os nomes reais serão colocados para que todos os interessados possam acompanhar, sendo que os réus só poderão ser considerados realmente culpados após a sentença de mérito ter transitado em julgado.

- Ana está com 56 anos é hipertensa cardiopata e portadora de diabete melittus. Estava medicada e tranqüila quando resolveu empreender uma viagem de turismo até a fronteira com a Venezuela com os seus familiares e amigos. Em um determinado momento na estrada alguém reparou que Ana estava apresentando convulsões.

- Um dos acompanhantes suspeitou que poderia ser o começo de um AVC, pois Ana apresentava fraqueza, distúrbio visual, desvio do olhar, afasia, perda do equilíbrio e dor de cabeça. Imediatamente retornaram até a cidade de Pacaraima e buscaram auxílio no hospital da cidade. Os médicos que a atenderam, ao verem os sintomas caracteristicos de um AVC, solicitaram uma ambulância para retornar com urgência à capital. Aconselharam que Ana fosse encaminhada para o Hospital Geral da cidade de Boa Vista, por ter equipamentos necessários para auxiliar no diagnóstico e tratamento. Ana chegou a Boa Vista em menos de três horas.

- Infelizmente os parentes achando que Ana teria um melhor atendimento foi levada para um hospital privado, onde ficou vários dias e a partir daí começou a ocorrer uma sucessão de erros.

- Isis, Enfermeira graduada e amiga de Ana, imediatamente ao saber do acontecido foi visitá-la. Ao ver os sintomas comentou que tudo indicava ser um AVC. Alertou os parentes que as três primeiras horas eram de extrema importância para a recuperação do paciente. Isis ainda argumentou que o Hospital Geral teria melhores condições. Os parentes alegaram que o hospital era particular e que um neurologista já estava dando o devido atendimento.

- O neurologista que atendeu Ana descartou a possibilidade de AVC, diagnosticando convulsão diabética. Tal diagnóstico foi interpelado por um dos parentes que chegou a solicitar uma Ressonância Magnética (RM), ato que irritou o neurologista que respondeu de maneira grosseira à pessoa que ousava fazer um questionamento do seu prestimoso diagnóstico.

- Um dos parentes avisou o médico cardiologista de Ana sobre o seu estado de saúde e pediu a sua presença, mas ele apareceu somente depois de dois dias. Esse mesmo Médico ao adentrar-se no quarto, verificou que Ana estava dormindo, não quis acordá-la e retirou-se do local, não retornando mais.

- No terceiro dia, na parte da tarde, um Clínico Geral resolveu dar alta para a paciente, mesmo ainda apresentando sintomas de AVC, pois o diagnóstico do neurologista era apenas uma convulsão diabética.

- No quarto dia ocorre nova internação, pois ela apresentava cefaléia e mau estar. Ficou mais dois internada e após novamente foi lhe dada alta hospitalar.

- No sétimo dia Ana foi levada para o seu cardiologista que a atendeu no seu consultório particular, o mesmo que não quis acordá-la quando estava internada no hospital privado. Ao ver o seu quadro clínico, o Médico ficou tão preocupado que resolveu interná-la imediatamente e solicitou uma Ressonância Mgnética (RM).

- Finalmente no oitavo dia, depois do resultado da Ressonância Magnética, foi dado o diagnóstico correto, onde ficou constatado um quadro de AVC hemorrágico que afetou a região do Talamo e Cápsula Externa.

- O cardiologista, significativamente preocupado e irritado, discutiu com o neurologista pelo seu diagnóstico falho. Houve acusações e inclusive uso de palavrões. Tal fato foi observado por um dos parentes de Ana.

- A seguir foi iniciado um tratamento, um tanto tardio, para minimizar o quadro clínico da paciente.

- Ana ficou mais oito dias internada. Deu alta e atualmente está tomando oito medicamentos indicados pelo cardiologista. Apresenta a mente confusa, hemeparisia na face e braço esquerdo, a noite tem o sono muito agitado. Sua locomoção é com dificuldade e necessita acompanhamento diário para tudo.

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- Tenho alertado para os problemas de negligência, desumanização e má preparação por parte de alguns profissionais médicos e enfermeiros. Várias vezes eu e minha esposa por termos conhecimentos na área do Direito e da Saúde conseguimos escapar das garras desses profissionais que envergonham aqueles que labutam de maneira valorosa e dentro dos princípios da honra e da ética.

- Ao ver o estado de Ana me lembro da minha mãe, na cidade de Ponta Grossa, no Paraná, quando entrou em óbito em um hospital de referência da cidade. Na época minha esposa achou que o tratamento tinha sido um dos melhores. Hoje ela tem a certeza de que estava enganada, pois se graduou na área da Saúde e tem a noção exata do que ocorreu na época. O tratamento da minha mãe não foi bom e houve vários erros que estavam ocultos para os olhos de um leigo.

- Fico preocupado ao me deparar com a quantidade de erros médicos que esta a aumentar cada vez mais e de ver algumas pessoas mais chegadas à família perderem suas vidas ou ficarem com seqüelas para o resto de suas vidas, como o caso de Ana, por descaso, prepotência, negligência e diagnóstico totalmente falho dado pelo neurologista que a atendeu.

- Como exemplo de diagnósticos falhos o Dr. Vernon Coleman[1] cita um estudo realizado com 93 crianças diagnosticadas com doenças cardíacas e que viviam como pacientes cardíacos. Destas apenas 17 realmente sofriam de doenças cardíacas. E no Brasil qual seria a real situação?

- Tenho me aprofundado nesta matéria através de pesquisas bibliográficas e de campo sobre erros médicos e a realidade é mais assustadora do que é divulgado na mídia. Muitas falhas são acobertadas pelo corporativismo e passam despercebidas pelas pessoas que aceitam de boa fé tudo o que o profissional diz, sem questionar e sem fazer perguntas básicas nos três ou quatro minutos, em média, que permanecem frente a frente com um Médico, que nem sequer faz uma ausculta, limitando-se a prescrever os medicamentos dos grandes trustes farmacêuticos indicados por um simples vendedor.

- Outro grave problema é a falta de manutenção dos equipamentos hospitalares e profissionais mal preparados em utilizá-los. Tudo isto pode induzir a diagnósticos falhos. Quem fiscaliza a manutenção desses equipamentos no Brasil?

- Muitos médicos e Enfermeiros, apreensivos com o aumento de erros médicos fazem denúncias. Alguns falam da necessidade de realizar um exame de ordem, outros falam em fechamentos de Instituições de ensino superior que ministram um péssimo ensino. É bom lembrar que o resultado desse péssimo ensino verifica-se nos concursos da área de Saúde, quando alguns candidatos chegam a zerar na prova especifica.

- O caos generalizado na Saúde e consubstanciado com profissionais mal preparados, com falta de humanismo moderno e holismo estão a ampliar cada vez mais a negligência, a prepotência e a humilhação. Tais manifestações atingem todas as classes sociais que procuram um lenitivo para os seus problemas de saúde. A classe social mais pauperizada é a mais atingida.

- Para o cidadão consciente com problemas de erro médico a alternativa para pressionar mudanças continua sendo a denúncia na imprensa, formalização do boletim de ocorrência (BO) na Delegacia de Polícia, formalização por escrito em duas vias da denúncia do Médico no Conselho Regional de Medicina (CRM), do Enfermeiro no Conselho Regional de Enfermagem (COREN), busca de um Advogado especializado ou de um Defensor Público para propor uma ação competente contra esses maus profissionais, cópia do prontuário do paciente, busca de testemunhas e a participação de associações que versem sobre erros médicos em sua cidade ou via Internet. Caso isto não aconteça, o cidadão estará compactuando com as falhas dos profissionais negligentes. Eles continuarão dando um atendimento irresponsável para crianças, jovens e idosos que padecem de algum distúrbio de saúde e, sobretudo, causando males irreversíveis como o caso da minha amiga Ana que teve um AVC.

- No caso de Ana, de maneira lastimável, levaram apenas a bagatela de oito dias para fazer um diagnóstico. Ela ficará com sequelas para o resto da sua vida pelo diagnóstico tardio que deveria de ter acontecido nas três primeiras horas do início do AVC. Se isto tivesse acontecido dentro do previsto iria aumentar as chances de administração da medicação trambolítica na sua recuperação.


[1] Coleman, Vernon – How To Stop Your Doctor Killing You – 2a edition. European Medical Journal Barnstaple, Devon, 2004.