quarta-feira, 29 de agosto de 2007

SOMOS TODOS BRASILINOS?


-Quando terminamos o texto publicado abaixo e olhamos ao nosso redor, para o nosso consumismo exacerbado sem pudor e sem fronteiras dos materiais não renováveis de Gaia (a mãe terra), parece que a situação continua a mesma de quarenta anos atrás, só que bem mais dominado.
-Será que na Nova Ordem Mundial o Brasil continua sendo, como sempre foi, um mero fornecedor de matéria prima para os povos mais capazes(?) e inteligentes(?) do planeta? Continua sendo um mero consumidor de produtos “Made in Alienígena”, sempre em detrimento do nacional? Continua sendo uma colônia de banqueiros, como bem descreve Gustavo Barroso em sua obra?
-Quando vemos o nível ruim da educação ministrada no Brasil, nos três níveis, que poderia mudar os rumos da Nação e do povo ignaro para melhor, quando vemos a corrupção escancarada que enriquece cada vez mais os vendilhões da pátria, quando vemos a falta de criticidade por parte da maioria do povo dominando pelo quarto poder (a mídia e dentro dela a pior de todas: a televisão), quero acreditar que tudo continuará como dantes, nas terras de Abrantes.
-Leia, interprete, medite e pesquise para confirmar ou não tudo que está escrito na crônica de Paulo Guilherme, aqui exposta e se tiver coragem repasse a crônica para outras pessoas, desde que não seja um Brasilino dominado mentalmente , bem a gosto do Big Brother do Jorge Orwell em seu romance “1984″.

UM DIA NA VIDA DO B R A S I L I N O

Paulo Guilherme Martins

“Não existe imperialismo no Brasil” Carlos Lacerda na “Tribuna da Imprensa”

“Essa história de imperialismo não passa de invenção de falsos nacionalistas que pretendem impedir o progresso da nação.” O Estado de São Paulo


Não sei se você conhece o Brasilino!? Mas isso não importa…

Brasilino – é um homem qualquer, que mora num apartamento qualquer, numa cidade qualquer… Situemo-lo em Santos, por exemplo.

Brasilino, como todo o bom burguês, começa o dia acordando; sim, porque o operário, este, levanta-se ainda dormindo a fim de chegar a tempo ao serviço.

Brasilino acorda e aperta o botão da campainha à cabeceira da cama, campainha essa que soa na copa; porem soa, consumindo energia – energia que é da Light, e, assim, o Brasilino inicia o seu dia pagando dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO. Mas Brasilino não pensa nisso e começa o seu dia, feliz!

Abre-se a porta. É Marta, a criada, que entra com o café da manhã: café, leite, pão, manteiga, um pouco de geleia e o jornal – “O Estado de São Paulo”. – Brasilino, como todo o bom burguês, lê somente a boa imprensa – a chamada sadia.

Enquanto lê as notícias, toma a sua primeira refeição. Brasilino não sabe que o leite, que bebe, é originário de uma vaca que foi alimentada com farelo REFINAZIL, da “Refinações de Milho do Brazil” (Brasil com Z), que é americana, e que a farinha com a qual foi feito o pão é originária do “Moinho Santista”, que não é santista e sim inglês. Assim, para tomar o seu café da manhã, Brasilino tem que pagar dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO. Mas, Brasilino nem sabe disso… e toma o seu café, bem feliz!

Terminado o café, Brasilino acende o seu primeiro cigarro: Minister, ou Hollywood, um desses da “Cia. Souza Cruz”, que não é do Sr. Souza e muito menos do Sr. Cruz, mas, sim, da “British, American Tobacco Co.”, o “trust” anglo-americano do fumo. E assim, para fumar seu cigarrinho, Brasilino paga dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO. Mas Brasilino nem pensa nisso e saboreia seu cigarrinho, feliz… feliz…

Em seguida, Brasilino vai ao quarto de banho, fazer a sua toilette: acende o aquecedor de gás - gás que é da City e, portanto, do grupo Light, e, enquanto a água aquece, toma da escova de dentes, marca “TEK”, da “Johnson & Johnson do Brasil” (que é americana), e da pasta dentifrícia “KOLYNOS”, com clorofila, da “Whitehall Laboratories of New York” e, assim, para escovar os dentes, Brasilino paga dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIROS…

Mas Brasilino nem pensa nisso…

Brasilino não sabe bem o que é clorofila e está certo de que, quando entrou na farmácia e escolheu essa pasta, o fez livremente; ignora que sua vontade foi condicionada pelas custosas campanhas de promoção de vendas, feitas através da imprensa, do rádio e da televisão e que, da mesma forma como ele escolhe sua pasta de dentes, escolhe, também, o seu candidato à Presidência da República.

Em seguida, Brasilino vai fazer a barba: toma do pincel, feito com fios de Nylon, da “Rhodia” – que é francesa – enche-o com creme de barbear “Williams”, que é americano. Ensaboado o rosto, Brasilino toma seu aparelho “Gillette”, munido com lâminas “Gillette”, ambos da “Gillette Safety Razor do Brazil”, e, feliz, vai raspando a face, pois nem pensa que, para fazer sua barba, tem que pagar dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO…

Terminada a barba, Brasilino entra no banheiro, envolvendo o corpo com a espuma acariciadora de um desses sabonetes, “Lever” ou “Palmolive”, um desses cuja espuma acaricia o corpo de 9, entre 10 estrelas de Hollywood. E assim, até para tomar seu banho, Brasilino tem que pagar dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO.

Após o banho, Brasilino enxuga-se com uma toalha felpuda da “Fiação da Lapa”, que também não é da Lapa porque é Suíça e, a seguir, passa pelo corpo talco “Johnson”, da “Johnson & Johnson do Brasil”.

E… começa a vestir-se.

Acontece, então, uma tragédia! Cai um botão da camisa do Brasilino. Ele toca novamente a campainha, e Marta corre a socorrer o nosso herói, munindo-se de agulha e linha. Dentro de poucos instantes, ao ver Marta cortar a linha com os dentes, depois de preso o botão, Brasilino sente-se novamente feliz. Feliz porque ele não sabe que Marta, a criada, para pregar o botão, usou a linha marca “Corrente” da “Cia. Brasileira de Linhas para Coser”, que é inglesa e que, até para pregar um botão, Brasilino tem de pagar dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO.

Já vestido, Brasilino despede-se de Marta, avisando que não virá almoçar nem jantar, pois irá a São Paulo, a negócios… – Sai, bate a porta, toma o elevador, que é “Schindler”, da “Schindler do Brasil”, que é suíça, e movido por força fornecida pela Light, e chega ao pavimento térreo. Dá bom dia ao zelador e toma o seu automóvel “Volkswagen”, fabricado pela “Volkswagen do Brasil”, que é alemã, rodando sobre pneus “Firestone”, da “Firestone do Brasil” que é americana, acionado por gasolina refinada pela “Petrobrás”, mas distribuída pela “Esso Standard do Brasil”, que é americana. Até para usar a gasolina, refinada pela Petrobrás, Brasilino paga dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO! Ele não sabe que os brasileiros têm capacidade para refinar o petróleo e produzir a gasolina, mas não a têm para a “difícil” tarefa de distribuí-la e que, para esse serviço – a simples distribuição – as companhias distribuidoras (Esso–Shell– Gulf–Texaco, etc.) ganham muito mais que a Petrobrás. Mas Brasilino ignora tudo isso… e Brasilino é feliz!

Pouco depois, Brasilino encontra-se na Via Anchieta, dirigindo-se a São Paulo. Ao passar por Cubatão e ao ver a Refinaria Presidente Bernardes, põe-se a pensar: “Porcaria essa Petrobrás! agora que a gasolina é nacional, custa cinco vezes mais.” – Sim, porque Brasilino não reflete que a gasolina custa, agora, muito mais, por um motivo muito simples: ao tempo em que a gasolina era importada, o dólar custava Cr$ 18,72 e, atualmente, para a importação de óleo bruto, custa Cr$ 200,00. – Não sabe, também, que o dólar está caro porque é escasso, e é escasso devido à procura, e a procura é muito grande, porque os dólares obtidos com a exportação brasileira, mal dão para fazer face às remessas de royalties e dividendos do CAPITAL ESTRANGEIRO.

A irritação do nosso herói, contudo, logo desaparece, pois a algumas centenas de metros à frente, Brasilino vê surgirem os dutos da Light e uma grande tabuleta com os seguintes dizeres: LIGHT AND POWER, a maior usina hidrelétrica da América do Sul – 1.200.000 KW. – Aí, Brasilino exulta e monologa com entusiasmo – “Isto sim! A Light! A Light! A Light que fez a grandeza de São Paulo.” Sim, porque Brasilino confunde Light com Energia. Ele não sabe que o que fez a grandeza de São Paulo não foi a Cia. Light e sim a Energia e que, se a Energia não pertencesse à Light, São Paulo seria dez vezes maior, ou o Brasil dez vezes menos miserável.

O interessante é que Brasilino nunca perguntou, a si mesmo, que seria da Inglaterra se não existissem as Lights pelo mundo.

Brasilino prossegue a viagem e, logo mais, atinge o altiplano, onde vê descortinar-se o panorama grandioso do progresso industrial, que ele julga ser do Brasil: “Volkswagen do Brasil” – “Mercedes Benz do Brasil” – “Willys Overland do Brasil” – “General Motors do Brasil” – “Rolls Royce do Brasil” – “Cia. Brasileira de Peças de Automóveis” – “Simca do Brasil” – “Plásticos do Brasil” e inúmeras outras “do Brasil” e “brasileiras”, mas todas elas ESTRANGEIRAS.

Brasilino, afinal, chega a São Paulo. Estaciona o seu carro em uma das ruas do centro e, a pé, alcança a Rua Líbero Badaró, para concluir um negócio. Brasilino recorda-se de que Líbero Badaró foi um homem que, ao ser assassinado, exclamou: “Morre um liberal, mas não morre a Liberdade!” E Brasilino conclui: “Que sujeito burro! Que interessa a Liberdade para um homem que já morreu!?”

Enquanto assim pensa, Brasilino chega aos escritórios da “Crescinco, Cia. de Investimentos”, pertencente ao Sr. Rockefeller. Brasilino sente-se orgulhoso de emprestar o seu dinheiro a um dos homens mais ricos do mundo, mas que, para financiar as suas indústrias, prefere usar o dinheiro dos próprios brasileiros, atraindo-os com a vantagem de juros de 2% ao mês e livre de imposto de renda. Brasilino não sabe que, entre o dia em que ele entregou o dinheiro e o dia em que esse mesmo dinheiro lhe foi devolvido, a desvalorização da moeda foi de 4% ao mês e assim , ele está menos rico, pois esse juro e mais os lucros da Cia. Investidora terão, forçosamente, de ser acrescentados ao custo das utilidades, saindo, consequentemente, da própria pele do Brasilino. Mas Brasilino não sabe disso e recebe o seu dinheiro e os juros, feliz!

Liquidado o negócio, Brasilino vai almoçar. – Entra num restaurante onde lhe é servido, como antepasto: frios da “Armour do Brasil”, que é americana, Margarina “Clay-Bon”, de “Anderson Clayton” que é americana, toma uma “Coca-Cola” e saboreia um prato de massa, preparado com farinha do “Moinho Paulista”, que é inglês, e, depois, come um filé com fritas, cuja carne foi fornecida pelo “Frigorífico Wilson” e as batatas foram fritas com óleo “Mazola”, da “Refinações de Milho Brazil” (Brazil com Z). Como sobremesa, comeu um pudim feito com “Maizena Duryea” também da “Refinações de Milho Brazil” e, assim, até para comer, Brasilino tem que pagar dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO. Após o almoço, Brasilino passeia pela cidade, a fim de fazer hora para o cinema, gastando a sola do sapato com saltos de borracha “Good Year”, pagando, até para andar, dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO.

Brasilino entra no Cine Metro, onde passa a tarde, deliciando-se com um filme, que é americano e, para passar algumas horas distraídas, Brasilino paga dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO.

Ao sair do Cinema, Brasilino sente uma leve indisposição; entra numa farmácia e toma um “Alka-Seltzer”. E, assim, até para prevenir uma indigestão, Brasilino precisa pagar dividendos ao CAPITAL ESTRANGEIRO.

Toma novamente o seu carro e volta para Santos. Chegando à casa, faz novamente a sua toilette, liga o rádio de cabeceira, marca “G.E.” da “General Electric do Brasil”, e deita-se sobre um colchão de espuma de borracha “Foamex” da “Firestone do Brasil” e repousa a cabeça, sobre um travesseiro do mesmo material, dormindo, feliz, o sono da inocência.

Não sei porque, mas a história do Brasilino traz sempre, à mente, aquelas magníficas palavras do Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os pobres de espírito porque será deles o reino dos céus.”

Mas uma coisa jamais será do Brasilino: O REINO EM SUA PRÓPRIA TERRA.

Por isso, leitor, se alguém lhe disser que não existe imperialismo econômico, no Brasil, é porque está ENGANADO, ou porque ESTÁ ENGANANDO VOCÊ.

Santos, outono de 1961.

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

- Notas do autor: Edição comemorativa dos 41 anos do lançamento da 1ª edição desta crônica. Outono de 2002. Publicação em jornais, revistas, rádio, televisão, ou em fascículos para distribuição gratuita, autorizada pelo autor, desde que reproduzida na íntegra.

- OBS do site www.anovademocracia.com.br: O panfleto foi publicado três anos antes do golpe de 1º. de abril de 1964. Portanto, o autor se refere apenas ao imperialismo econômico, porque o Brasil ainda não havia se deparado com a consolidação do imperialismo (sob a hegemonia do USA) na superestrutura da sociedade brasileira, o que somente conseguiu ao apoderar-se do sistema de Estado e de governo, associado às classes contra-revolucionárias internas, as quais funcionam como um suporte social. Cabe observar também que, ao longo desses 43 anos, alguns produtos foram retirados do mercado e corporações se extinguiram ou passaram para as mãos de outros grupos financeiros poderosos - o que não significa que o seu patrimônio tenha se transferido para o controle nacional, na condição de empresa mista ou mesmo de capital privado brasileiro.

domingo, 26 de agosto de 2007

O FILME “O SORRISO DE MONA LISA” E A EDUCADORA SUBVERSIVA

- Quais as lições que podemos tirar do filme?

- A história fica centrada em uma professora inovadora com idéias à frente de seu tempo que é contratada por uma renomada e tradicional escola de Ensino Médio, a qual preparava alunos para as Universidades americanas na década de 50. Num primeiro contato com a turma, composta apenas de mulheres de classe média alta, a Educadora Katherine ficou surpresa com a capacidade das alunas condicionadas às limitações da “decoreba” de uma apostila extremamente limitada. Além disso, as alunas demonstravam desconhecimento do que realmente seria a disciplina de História da Arte, com a qual a educadora teria que trabalhar.

- A Instituição educacional era de uma postura extremamente tradicionalista, assim como a maioria do corpo discente, de visão tacanha, passaram a ver a professora como uma questionadora e comunista. E, de fato, idéias que iam de encontro aos costumes da época (anos 50) germinavam em seu pensamento.

- Não sendo uma Educadora limitada, tentou ampliar os métodos educacionais. O método visual utilizado, slides, favoreciam os alunos. Pelo visto, foram também utilizados outros métodos educativos, como visitas a uma exposição de artes. Uma maneira de despertar o interesse do alunado pela disciplina, observando detalhes que não estavam expostos na apostila.

- Tendo provocado questionamentos e reflexões acerca das normas impostas, não somente em relação ao conteúdo programático, buscando informações que estavam fora da apostila, mas também, questionando os valores vigentes na sociedade da época, estimulando às alunas a conceberem a realidade de outra forma, a se aventurarem a fazer uma análise própria.

- Educadora por excelência, ela se preocupava com o futuro das suas alunas, procurando conhecê-las mais de perto. Ficava importunada com a limitação da evolução profissional das jovens alunas, pois o único desejo imposto pelos costumes da época era a de ser uma “doméstica prendada” (passadeiras, cozinheiras, “limpadeiras” de bumbuns dos filhos, consumidoras de utensílios domésticos e tudo isto sem questionar absolutamente nada – Uma rainha do lar escravizada pelo machismo da época, pelo marido e pelo capitalismo dos anos 50). Será que agora está um pouco melhor para as mulheres?

- Educadora de visão futurista rompe com o tradicionalismo, mostrando às alunas que é possível conciliar uma carreira profissional à vida doméstica. Tentava libertar a mulher da égide do casamento, onde seria apenas uma figura submissa. Estimulava a aptidão e o crescimento das suas alunas para liderança. Naturalmente, para os padrões arcaicos da escola, este tipo de intervenção e aplicações de métodos educativos diferentes não agradavam a direção escola.

- Uma outra problemática que podemos observar no filme é a importante postura do professor, em qualquer nível, de estar continuamente se auto-avaliando. A primordial atitude profissional de repensar perenemente sua prática pedagógica. Quantos professores conhecemos que, tendo alcançado certa titulação, param no tempo e no espaço? Pensam que já conhecem tudo e nada mais precisam conhecer. Ledo engano! A evolução da ciência é constante, a cada dia temos novas descobertas colocando em cheque velhos paradigmas educacionais. Àquele educador que decide parar, a partir daquele momento está desatualizado e pode trazer graves conseqüências para a formação dos seus alunos e para a sociedade.

- Todos aqueles que militam na área de educação deveriam de assistir esse excelente filme, cuja história é vivenciada pela atriz Julia Roberts no papel da educadora Katherine e fazer algumas reflexões sobre a capacidade da educadora de conseguir, nos momentos de crise, superar as adversidades surgidas em sala de aula e as impostas pela diretoria de pensamento arcaico do Wellesley College, da dedicação apaixonada pelo seu magnífico trabalho, bem como a iniciativa de utilizar os recursos e aplicação de estratégias úteis no desenvolvimento educacional dos seus alunos.

UM POUCO DE RUBENS ALVES

- Rubens Alves é para mim um educador, escritor e um poeta por excelência. Utiliza as palavras com uma grande perfeição, deixando transmitir a essência da verdade de maneira singela, sem pressa, com muita tranqüilidade, em meio ao caos da sociedade de consumo globalizada, centrada apenas nas sensações materiais e no imediatismo.
- Neste torvelinho quase hierático pelas novas gerações muitos perguntam: Ainda dá para acreditar em Deus?

- Fizeram a Rubens Alves uma pergunta parecida. Vejam a resposta do grande sábio:

PERGUNTARAM-ME SE ACREDITO EM DEUS…

Aconteceu ao final de um debate sobre educação promovido pela Folha. Chegada á hora das perguntas uma senhora me perguntou algo que nada tinha a ver com educação. Perguntou porque lhe doía: “O senhor acredita em Deus?” Houve tempo em que era mais fácil acreditar em Deus. Hoje até o Papa se atrapalha. Na sua visita ao campo de concentração de Treblinka perguntou o que não deveria ter perguntado: “Onde estava Deus quando esse horror aconteceu?” Heresia porque a pergunta silenciosamente afirma que Deus não estava lá. Se estivesse não teria deixado aquele horror acontecer. Pois Deus não é amor e todo poderoso? Se estava lá e deixou acontecer ou ele não é amor ou não é todo poderoso. Por outro lado, se ele não estava lá ele não é onipresente…

Depois do atentado terrorista ao World Trade Center o “New York Times” publicou um artigo com essa mesma pergunta: Onde estava Deus? Se estava lá, por que deixou acontecer?

Dietrich Bonhoffer, pastor protestante que foi enforcado por haver participado de um frustrado atentado para assassinar Hitler -às vezes não há como fugir: ou matar um único, para que muitos não sejam mortos, ou, para preservar a pureza pessoal, não matar esse único e deixar que milhares sejam mortos; a inocência pode ser mais criminosa que o crime…, lutou com essa pergunta: “Onde está Deus?” Sua resposta foi simples: “Deus está aqui, mas ele é fraco…”
Se Deus existe e é forte, como perdoá-lo por permitir que aconteça o horror de sofrimento que não deveria acontecer? Mas se Deus é fraco ou não existe, então seria possível perdoá-lo e amá-lo. Aí choraríamos e diríamos: “Se Deus existisse e fosse forte isso não aconteceria…” A gente fica, então, com saudade do Deus que não existe. Mas eu não disse nada disso para aquela senhora. Apenas perguntei de volta, pedindo um esclarecimento: “Acreditar em qual Deus? Há tantos… Homens ferozes e vingativos têm um Deus feroz e vingativo que mantém, para sua própria alegria, uma câmara de torturas chamada Inferno para vingar-se dos seus desafetos. Há o Deus jardineiro que criou um Paraíso e mora nas árvores e nas correntes cristalinas. Há o Deus com alma de banqueiro que contabiliza débitos e créditos… Há o Deus da Cecília Meireles que se confunde com o mar… Há o Deus erótico que inspira poemas de amor carnal… Há o Deus que se vende por promessas e faz milagres… E há também o Deus criança de Alberto Caeiro e Mário Quintana. Qual deles?”

Ela ficou em silêncio, meio perdida. Então lhe respondi com os versos do Chico: “Saudade é o revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu”.

E perguntei: “Qual é a mãe que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que chegará amanhã ou a que arruma o quarto para o filho que nunca chegará?”.

E acrescentei: “Sou um construtor de altares. Construo meus altares à beira de um abismo. Eu os construo com poesia e beleza. Os fogos que acendo sobre eles iluminam o meu rosto e aquecem o meu corpo. Mas o abismo continua escuro e silencioso…”

Aí, provocado pela pergunta daquela mulher desconhecida escrevi um livrinho cujo título é a pergunta que ela me fez: “Perguntaram-me se acredito em Deus”. Àquela mulher o meu muito obrigado…

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

VAMOS LUTAR PELA CIDADANIA?

- Há poucos dias a ONG Transparência Internacional (TI) com sede em Berlim divulgou o seu relatório anual do Índice da Percepção da Corrupção (PCI em inglês) no mundo. Podemos dizer que é no mínimo interessante, onde aponta 102 países, dos quais 70% deles conseguiram obter a péssima nota inferior a 5,0, num total de 10 pontos (zero para o mais corrupto e dez para o menos corrupto)

- Obviamente, a nossa Nação mergulhada em corrupção a mais de quinhentos anos(1) não conseguiu obter a nota cinco e sim um magérrimo 4,0.

- Todas as mazelas sociais do Brasil sempre estiveram relacionadas com os políticos e as oligarquias que nos últimos anos já não conseguem mais esconder os seus atos criminosos com tanto zelo. O resultado todos nós assistimos diariamente de acordo com os interesses das mídias ou então sentimos os resultados na própria carne: O caos nos aeroportos, estradas sucateadas, a péssima educação nos três níveis, as centenas de mortes ocasionadas pela incompetência das autoridades etc.

- Vejam o caso dos dois últimos desastres da GOL e da TAM. Foram necessários em torno de 353 mortes em menos de um ano para que a trupe do governo Lula começasse a agir de maneira precária. Obviamente, tudo isto é o resultado da omissão não só do atual governo, mas de todos os governos anteriores, inclusive o governo do professor e sociólogo FHC que aderiu vergonhosamente ao neoliberalismo.

- A grande maioria da sociedade atual está sendo incapaz de reverter à situação engendrada por anos de corrupção e do domínio midiático pelas oligarquias. A sociedade está sendo cada vez mais caracterizada por um conjunto de pessoas amorfas e despossuída de personalidade, não tendo a mínima capacidade de cobrar, exigir e fiscalizar os poderes com seriedade e, sendo assim, a corrupção propaga-se como uma pandemia generalizada nunca vista na história deste País. Um exemplo vem das últimas eleições onde pessoas que respondem a dezenas de processos foram eleitas por eleitores nada críticos e despossuídos de senso de cidadania. Uma espécie de “vaquinhas de presépio”. Outro exemplo são as 4.600 prefeituras, dentro de um universo de 5.600, envolvidas com corrupção de acordo com os dados da Procuradoria Geral da União (PGU).

- Uma grave conseqüência gerada pela corrupção é a concentração de rendas, uma das mais perversas do mundo, a qual acaba gerando riquezas descomunais para poucos e migalhas para a maioria. Basta ver o caos na Saúde, nos aeroportos, nas estradas, no saneamento, salário mínimo, o enriquecimento meteórico de políticos etc.

- A reversão desta tragédia secular só seria possível com milhões de olhos vigiando a ação dos políticos, pois assim seria refreada a possibilidade da corrupção medrar. Se existe algo que eles temem é a sociedade organizada e com um alto senso crítico de cidadania. Para que isto aconteça temos que ter a necessidade urgente de recuperar o poder que pertence ao povo e não aos vendilhões da Pátria.

- Acredito que através de ONGS sérias e transparentes, de comunidades de bairros, de professores organizados, da comunidade científica, como a SBPC e de outros segmentos da sociedade, existe a possibilidade de frear não só a corrupção, mas de recuperar também o controle midiático(2) (denominado por alguns de o “quarto poder”) perdido para os grupos oligárquicos e políticos que detêm o poder, a riqueza e a tecnologia em detrimento do povo e da própria Carta Cidadã (CF/88).

- Esses grupos são poderosos e já tentam interferir até mesmo no controle da Internet sem a participação da sociedade, pois é lá que as oligarquias estão encontrando dificuldades de um controle maior sobre as verdades que são escamoteadas por outras mídias ou propaladas como “meias verdades”, seguindo os mais variados interesses dos impérios midiáticos.

- Convém frisar que é na Internet que as pessoas simples, jornalistas independentes, escritores e pesquisadores, que encontram dificuldades de expressão na mídia controlada, conseguem manifestar os seus pontos de vista relacionados com a política e para com as mazelas da sociedade, além de denunciar casos de corrupção e outras verdades deliberadamente ocultas por muitas mídias que não querem que a verdade apareça por motivos óbvios.

- Portanto desenvolva o teu senso crítico, procure ler boas obras, (é tudo que eles não querem), pois muitos autores fazem as suas denúncias em livros. Não aceite de imediato o pensamento imposto pela telinha de TV, pois ela dá a você a pergunta e ao mesmo tempo a resposta, além de te viciar em seus programas novelescos de nível duvidoso. Procure durante vários dias assistir diversos jornais televisivos e depois faça a comparação entre eles. Você terá surpresas que nunca viu. Não tenhas medo e vergonha de criticar, faça a tua denúncia pela Internet, na tua igreja, na tua associação. Alie-se a outras vozes para formar uma corrente, pois nem mesmo com a violência armada eles irão calar a todos. Tenha em mente que à vontade do povo deve de ser expressa modernamente através de plebiscito e referendum para que a Democracia seja preservada e não vire demagogia e anarquia nas mãos de criminosos. Não se esqueça que o plebiscito e o referendum são, indiscutivelmente, mecanismos jurídicos de grande valia para a Democrácia e para a preservação dos interesses do povo.

- Faça a tua parte para o bem dos teus filhos e de todos os que te cercam. SEJA UM CIDADÃO CRÍTICO E DIGA NÃO A CORRUPÇÃO E AS OLIGARQUIAS QUE TE DOMINAM E NÃO TE ESQUEÇAS QUE A DEMOCRACIA PODE SER DESTRUÍDA OU MANIPULADA PARA O INTERESSE DE POUCOS.

(1) Habib, Sérgio. Brasil Quinhentos anos de Corrupção – Enforque sócio-histórico-jurídico penal.Editora Fabris, Porto Alegre/RS, 1994.

(2) Guareschi, Pedrinho A.Mídia, educação e cidadania – Tudo o que você deve saber sobre a mídia.Editora Vozes, RJ, 2005.P. 101 e 102.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

CHEQUE MATE PARA AS VIRTUDES NOBRES DO SER HUMANO?

- Comentários sobre o esfacelamento das virtudes nobres do ser humano (bondade, humanidade, moral, ética, companheirismo, pureza nos pensamentos, prudência etc) estão sempre sendo uma constante de indignação neste blog. Exatamente por não possuir um senso comum como a maioria do povo, sempre acabo voltando para a questão da falta de valores que, como uma doença crônica, está instalada em toda a sociedade.

- Uma maçã podre sempre acaba contaminando as demais. É exatamente o que vem acontecendo com quase todos os setores da sociedade. O descaso pela vida humana, pela educação, pela honestidade, pela honra, pela amizade pura e sincera, pela ética constantemente conspurcada, pela falta de moral para com a verdade e para consigo próprio estão refletidas nos atos praticados diariamente por todo o Brasil. Estão perdendo o encanto mágico para a formação da decência humana e da família, na qual os pais já não conseguem mais transmitir os valores reais para os filhos.

- Eu mesmo já presencie pessoas sem decência e sem honra serem premiadas dentro de certas instituições que deveriam zelar com afinco pelas virtudes nobres. Presenciei outras por motivos fúteis serem crucificadas, muitas vezes sem chance para a sua própria defesa.

- Uma maçã podre deve de ser imediatamente retirada do lote e jogada fora, mas não é assim que acontece dentro da nossa sociedade e o resultado desse descalabro se faz ver nos noticiários diários envolvendo desde cidadãos comuns e até mesmo membros importantes dos três poderes da República. A contaminação se espalha entre o povo que paulatinamente está perdendo os valores tradicionais enaltecedores de uma sociedade humana equilibrada.

- Ontem mesmo assisti por uma mídia uma cena patética vinda do assessor especial do presidente Lula, um alto funcionário do governo, esboçando sinais pejorativos relacionados com o malfadado acidente aéreo da Tam. Quais os reais valores desse homem? Qual o tipo de educação ética e moral que teve? O que podemos esperar desse funcionário que está a serviço do povo brasileiro? E o que falar de centenas de outros servidores que se revestem apenas com pequena casca de verniz que ao ser rompida temos apenas a podridão nauseante do seu interior. E essa própria mídia, qual o real interesse, já que muitos dos seus programas novelescos deixam a desejar em termos de conduta ética e moral, além de possuir uma acentuada influência no pensamento do povo?

- O Dr. Adib Jatene, laureado como um dos sete homens mais sábios do mundo no campo da cirurgia cardiovascular, fez comentários sobre a situação dantesca da formação incompleta de médicos, tecendo comentários sobre a crise de valores que a mundialização capitalista está trazendo para todos. Os seus comentários estão centrados na aérea da Medicina, mas tranqüilamente estão ligados às demais áreas do saber. Na realidade o Dr. Jatene apenas indicou uma pontinha do “iceberg”. A realidade é muito pior por se estender às diversas áreas de formação acadêmica.

- A reativação dos valores nobres dentro da sociedade amortecida é essencial. As maçãs podres devem de eliminadas definitivamente. Não será necessário uma “bola de cristal” para saber o que nos aguarda nos próximos anos com a falência da moral e da ética que atinge uma das principais fontes da existência do nosso País: A FAMÍLIA.

ALGUMAS BREVES REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO

- São apenas algumas reflexões em processo de burilamento. Não é uma verdade pronta e acabada. Devem de ser pesquisadas e fundamentadas ainda mais, com o objetivo precípuo de estabelecer novos paradigmas, encontrar novos caminhos necessários para formar mulheres e homens que irão estabelecer no futuro as mudanças benfazejas, bem como de combater os interesses egoísticos dos senhores da globalização. A verdade deve de prevalecer e o caminho do meio deve de ser escolhido para que se possa rumar em direção a uma cidadania mundial centrada no holismo, no humanismo e na transdisciplinaridade dos três níveis de educação.

- Conhecimento: vemos como é de importância extrema que o aluno ao assimilar o conhecimento possa desenvolver uma postura adequada de saber aplicar as informações e práticas adquiridas, não apenas no âmbito profissional, mas também prepara-lo para responder e enfrentar aos desafios do mundo capitalista, até mesmo de sobrevivência no contexto desta sociedade neoliberal nas áreas social, política, ambiental e principalmente a econômica, geradora da maioria das mazelas atuais que assolam o planeta. Que esse conhecimento adquirido pelo acadêmico terá que ser continuadamente revisto e aprimorado constantemente para o resto da sua vida.

- A transmissão do conhecimento: terá quer ser feita por um Educador qualificado e bem lastreado em termos salariais, para que possa estar em continuo aprimoramento, caso contrário continuaremos a ter uma gama de profissionais mal formados, como por exemplo, professores escrevendo casa com “Z”, médicos cometendo erros crassos, advogados sem ética, de moral duvidosa para com a sociedade e políticos destituídos de senso social/ambiental/moral/econômico que um dia também passaram nas mãos de professores desiludidos, dentro de um ensino medíocre, interagindo com o sistema neoliberal imposto nesta pseudo democracia de cunho excludente e de interesse para o capital alienígena dominante.

- Integração de conhecimentos: terá que ter um sistema de integração onde o acadêmico motivado estaria interagindo com o seu Educador de maneira satisfatória, interligando os conhecimentos adquiridos nas pesquisas, podendo articular respostas para os problemas apresentados, servindo de subsídios para a sua vida profissional futura, inclusive para as mazelas socioambientais. Logicamente, o Educador terá que estar sintonizado nesse processo de pesquisa com seus alunos e sempre em continuo aperfeiçoamento, principalmente sobre o entendimento da transdisciplinaridade e da sua aplicação na vida dos acadêmicos e educadores.

- A colheita da aprendizagem: vemos que para a colheita de resultados a aprendizagem requer um envolvimento completo pelo acadêmico. Ele terá que vivenciar e sentir com profundidade à realidade dos novos conhecimentos e as conseqüências geradas, não só na sua vida, mas na sociedade em geral. É um processo lento, mas necessário, até mesmo para a sobrevivência em tempos de mundialização onde poucos recebem e a maioria é excluída dentro do modelo capitalista vigente. Esse envolvimento do acadêmico segue algumas etapas:

a) Logicamente para o bom educador, e desde que o sistema controlado pelo capital permita, ele irá aproveitar a trajetória pretérita da vida do mundo social dos seus alunos naquilo que pode ser aproveitado para a aquisição de novos conhecimentos e reconstrução de paradigmas falhos e ultrapassados.

b) O despertar do interesse do acadêmico está ligado diretamente à motivação que ele terá de acordo com a sensibilidade interior e o grau de conhecimento geral e especifico do seu Educador.

c) De maneira muitas vezes sutil, o Educador deveria induzir o acadêmico a formular determinados pareceres que tenham conexão com a sua visão de mundo, de acordo com as suas experiências na sociedade em que vive.

d) É de importância extrema a vivência em situações reais que ocorrem na área profissional em que o acadêmico irá atuar, verificando os erros e os acertos para que ele possa ter bases sólidas na ética e na moral profissional.

e) O acadêmico deveria de encarar o conhecimento como uma conquista sua e trabalhar em seu aprimoramento com sabedoria para o resto da sua vida, não só na sua área profissional, mas extensível em outras áreas relacionadas com o “bom viver” da sociedade incluída e principalmente as mazelas da maioria excluída.

- A lógica: o acadêmico entrando em contato desde cedo com a realidade da sua profissão, terá mais facilidade para aprender do que na sala de aula. Isto terá que ser dosado pelo Educador de visão, que naturalmente irá trabalhar nas falhas e acertos observados nos locais onde será exercida a profissão escolhida.

- Desafio: temos o desafio de achar os métodos mais adequados para que possamos, Educadores e acadêmicos, aprender como deveremos aprender corretamente, para que tenhamos mais facilidade na compreensão da realidade que nos cerca e tentar mudar aquilo que ainda pode ser mudado com muita sabedoria, utilizando todo o conhecimento correto adquirido pelo ser humano para trabalhar no contexto desta mundialização capitalista que exclui a maioria, escravizam outros tantos e beneficiam apenas poucos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

OS RICOS POBRES (Marta Medeiros)

- O texto abaixo pertence à jornalista e escritora gaúcha Marta Medeiros. Achei bastante interessante a maneira como ela expõem a realidade social com a qual convivemos diariamente, expondo de maneira inteligente e usando de uma linguagem simples, porém muito convincente, as agruras que passamos na nossa sociedade.

- Do texto podemos fazer uma bela reflexão e tirarmos lições para reconceituar alguns paradigmas. Vale a pena dar uma lida!

OS RICOS-POBRES

Anos atrás escrevi sobre um apresentador de televisão que ganhava um milhão de reais por mês e que em entrevista vangloriava-se de nunca ter lido um livro na vida. Classifiquei-o imediatamente como uma pessoa pobre.
Agora leio uma declaração do publicitário Washington Olivetto em que ele fala sobre isso de forma exemplar. Ele diz que há no mundo os ricos-ricos (que têm dinheiro e têm cultura), os pobres-ricos (que não têm dinheiro, mas são agitadores intelectuais, possuem antenas que captam boas e novas idéias) e os ricos-pobres, que são a pior espécie: têm dinheiro, mas não gastam um único tostão da sua fortuna em livrarias, museus ou galerias de arte, apenas torram em futilidades e propagam a ignorância e a grosseria.
Os ricos-ricos movimentam a economia gastando em cultura, educação e viagens, e com isso propagam o que conhecem e divulgam bons hábitos. Os pobres-ricos não têm saldo invejável no banco, mas são criativos, efervescentes, abertos. A riqueza destes dois grupos está na qualidade da informação que possuem, na sua curiosidade, na inteligência que cultivam e passam adiante. São estes dois grupos que fazem com que uma nação se desenvolva. Infelizmente, são os dois grupos menos representativos da sociedade brasileira. O que temos aqui, em maior número, é o grupo que Olivetto não mencionou, os pobres-pobres, que devido ao baixíssimo poder aquisitivo e quase inexistente acesso à cultura, infelizmente não ganham, não gastam, não aprendem e não ensinam: ficam à margem, feito zumbis.
E temos os ricos-pobres, que têm o bolso cheio e poderiam ajudar a fazer deste país um lugar que mereça ser chamado de civilizado, mas que nada: eles só propagam atraso, só propagam arrogância, só propagam sua pobreza de espírito.
Exemplos?
Vou começar por uma cena que testemunhei semana passada. Estava dirigindo quando o sinal fechou. Parei atrás de um Audi preto do ano. Carrão. Dentro, um sujeito de terno e gravata que, cheio de si, não teve dúvida: abriu o vidro automático, amassou uma embalagem de cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se o asfalto fosse uma lixeira pública.
O Audi é só um disfarce que ele pôde comprar, no fundo é um pobretão que só tem a oferecer sua miséria existencial. Os ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm alcance para ir além do óbvio. Só tem dinheiro. Os ricos-pobres pedem no restaurante o vinho mais caro e tratam o garçom com desdém, vestem-se de Prada e sentam com as pernas abertas, viajam para Paris e não sabem quem foi Degas ou Monet, possuem tevês de plasma em todos os aposentos da casa e só assistem a programas de auditório, mandam o filho pra Disney e nunca foram a uma reunião da escola. E, claro, dirigem um Audi e jogam lixo pela janela. Uma esmolinha pra eles, pelo amor de Deus.
O Brasil tem saída se deixar de ser preconceituoso com os rico-ricos (que ganham dinheiro honestamente e sabem que ele serve não só para proporcionar conforto, mas também para promover o conhecimento) e se valorizar os pobres-ricos, que são aqueles inúmeros indivíduos que fazem malabarismo para sobreviver, mas, por outro lado, são interessados em teatro, música, cinema, literatura, moda, esportes, gastronomia, tecnologia e, principalmente, interessados nos outros seres humanos, fazendo da sua cidade um lugar desafiante e empolgante.

É este o luxo de que precisamos, porque luxo é ter recursos para melhorar o mundo que nos coube, e recurso não é só money: é atitude e informação.

Marta Medeiros

QUAL O REMÉDIO PARA NÃO MATAR A ESPERANÇA?

- Estamos parados em uma encruzilhada e não sabemos qual o caminho que deveremos seguir. Sentimentos velados afloram do interior das pessoas, desnudando o verdadeiro caráter e a verdadeira personalidade que é estampada diariamente pelas mídias em geral. Muitos já não temem serem descobertos na ilicitude de seus atos criminosos, pois tem a certeza da impunidade através de centenas de recursos ou quando punidos ocorre aplicação de penas que serão reduzidas por força de leis criadas pelos seus governos e líderes ética e moralmente decadentes.

- Os crimes por motivos fúteis ocorrem às centenas diariamente em todas as classes sociais. As pessoas são mortas tanto por armas de guerra, carros transformados em armas, paus, pedras e armas brancas. Muitos cidadãos deixam de fazer o registro policial por descrença da população nas autoridades democraticamente constituídas através de urnas eletrônicas duvidosas.

- Diurturnamente a mídia, sabe-se lá com que intenção, vem denunciando parte das autoridades dos três poderes envolvidos em crimes tipificados pela legislação vigente e outros atos ilícitos(?) que ainda necessitam de legislação para serem coibidos e punidos, como por exemplo, a liberação da “cola eletrônica” pelo Supremo Tribunal Federal

- Não precisa ser um especialista para se ver que o nosso sistema republicano está contaminado pelo vírus da corrupção impune e desenfreada, bem como da desestruturação familiar que vem sofrendo sensíveis mudanças em seus costumes e hábitos. O resultado destas mudanças está refletida nas paginas das revistas, dos jornais e dos noticiários televisivos: Filhos de classe média e media alta, que freqüentam universidades caras, matam, batem, estupram, roubam e furtam, despossuidos de sentimentos fraternais, de respeito e de todos os atributos nobres que um ser humano possa ter.

- Eu mesmo vejo às mudanças perversas ocorrendo nos filhos de alguns conhecidos e amigos que me cercam. Os pais perderam completamente o controle, a moral e a própria ética familiar. O que importa é o consumo desenfreado globalizado e a obtenção de dinheiro licito ou ilícito. Não importa a origem.

- É a prova cabal da aniquilação familiar e educacional em todas as classes sociais. Esses adolescentes, principalmente das classes altas, serão as futuras autoridades que irão determinar os futuros rumos do nosso País. Para onde eles nos levarão daqui a alguns anos?

- Urge a necessidade de remédios amargos para estancar a degradação das gerações de adolescentes, de criminosos empoleirados no poder e mudanças na estrutura educacional dos três níveis com humanização moderna e transdisciplinaridade para alunos e educadores. Para que isto aconteça tem que haver uma higienização drástica nos três poderes da República para impedir que a farsa continue e possibilitar aos poucos bons representantes que temos no poder a implementação de medidas que possam mudar a correnteza que está nos levando para o aniquilamento moral, ético e social, através de todos aqueles, nacionais e estrangeiros, que nos anos 60 se predispuseram a melhorar o País e o mundo. De uma certa maneira eles estão de parabéns: tornaram o País e o mundo um lugar pior ambientalmente e socialmente com milhões de excluídos.

- O pequeno detalhe é como se fará às mudanças necessárias para alterar o rumo que nos é imposto, com discernimento e sabedoria por parte do que resta dos bons cidadãos possuidores de grandes conhecimentos e sabedoria popular. Quais serão os remédios amargos que terão que ser ministrados para a Nação doente?