terça-feira, 1 de julho de 2014

A INDÚSTRIA DO MEDO

É no mínimo interessante ver como os gerentes políticos dos últimos anos procuram dissimular as verdadeiras causas da criminalidade e do crescimento da insegurança com medidas pífias. Essas medidas combatem precariamente apenas os efeitos e ao mesmo tempo permitem que o medo seja usado como ferramenta pelo sistema capitalista neoliberal para tirar o maior proveito possível com a venda de segurança privada,  a qual é gerada principalmente pela indústria do medo.

Neste sentido, as pessoas de senso comum não se alertam que esta em pleno andamento a transformação do direito social à segurança em simples mercadoria, ou seja, quem quiser segurança terá que pagar para a iniciativa privada. Não se alertam que as mídias televisivas, entre outras, estão a disseminar o medo em seus noticiários e programas criminais, facilitando assim a venda de segurança de uma forma bem subliminar. 

Por outro lado, fica caracterizado que há uma tentativa de estigmatizar determinados indivíduos pertencentes à classe pobre, preferencialmente aqueles excluídos pelo sistema capitalista  em sua nova fase, portanto a ordem é criminalizar e posteriormente auferir altos lucros com o sistema penitenciário à custa dessa massa de miseráveis expulsa do sistema produtivo capitalista.

A lógica é que essa população de miseráveis, que permeiam os bairros periféricos das grandes cidades já não interessa mais ao sistema capitalista neoliberal pela incorporação de alta tecnologia no chão de suas fabricas, como por exemplo, a robotização de inúmeros setores capitalistas de produção, principalmente a do meio rural.

Por esse caminho, não é a toa que o Brasil já ocupa o 3º lugar no ranking dos países que mais prende no mundo[1], sendo ultrapassado apenas pelos EUA e pela China. Não é a toa que a segurança virou mercadoria a ser comprada. Não é a toa que os presídios começam a ser privatizados. Não é a toa que vários serviços nas penitenciárias públicas foram terceirizados. Não é a toa que em pouco tempo esses prisioneiros serão escravizados sutilmente com vários direitos suprimidos e com pouco interesse em ressocializá-los (como se pudesse ressocializar quem nunca foi socializado). Dentro da lógica capitalista neoliberal esses setores são lucrativos e o Estado dito mínimo deve de ceder esses setores para a iniciativa privada capitalista, a exemplo das penitenciárias dos EUA, um grande negócio  do grande encarceramento[2].

Outrossim, o Estado mínimo perde o controle do seu falido sistema penitenciário para o crime organizado (FDM – Família do Norte; CV - Comando Vermelho; PCC – Primeiro Comando da Capital etc.), o Estado mínimo não aplica políticas socioeconômicas adequadas e educativas. Infelizmente dentro dos presídios brasileiros a animalidade prevalece em lugar da civilidade e nas ruas não é diferente. Nas ruas a população vive com uma crescente sensação de insegurança, o que acaba estimulando ainda mais o milionário comércio para venda de segurança privada, obviamente apenas para quem possa pagar.

Enquanto isto teremos a continuação do genocídio[3] imposto maquiavelicamente aos brasileiros pela troika demoníaca neoliberal, composta por diversos agentes econômicos especuladores e extrativistas das nossas riquezas que por sua vez financiam centenas de agentes públicos corruptos em uma eterna cirando do mal.

Por outro lado, a esperança de mudanças dorme eternamente com o gigante adormecido em berço esplêndido enquanto que o genocídio implantado caminha a passos largos conforme indica o Delitometro[4]: desde 1980, 1.347.356 homicídios; 82.563 homicídios de mulheres; e 1.142.429 mortes no trânsito. Tudo isto sem computar os dados que as autoridades competentes não chegam a tomar conhecimento (Cifra Negra[5]).

Enfim, os dados do Delitometro mostram a gravidade da situação, da insegurança em que estamos imersos e da implantação do medo no meio da população. É pior que uma guerra convencional. É o extermínio de grande parcela da população e sem indenizações para as vítimas, sem punições exemplares para os que permitiram e permitem a continuação dessa insana guerra civil não declarada. O pior é que uma minoria de empresários, políticos e partidos continuam auferindo altíssimos lucros com esse genocídio escancarado. Qual a grande saída? A resposta bem que poderia surgir nas eleições de 2014, mas as urnas eletrônicas são confiáveis?



[2] Para saber mais: Quem lucra com as prisões (Ed. Revan) – Tara Herivel;  Vende-se segurança (Ed. Revan) – Vanessa M. Feletti.
[5]  É a porcentagem de crimes que não chegaram ao conhecimento público e não foram devidamente julgados.