domingo, 8 de março de 2009

A GUERRA CIVIL BRASILEIRA NÃO DECLARADA

“A civilização política é liberdade. Mas a liberdade [...] não é senão a segurança: a segurança da vida da pessoa, dos bens. Para um saxão de raça, ser civilizado é ser livre. Ser livre é estar seguro de não ser atacado em sua pessoa, em sua vida, em seus bens, por ter opiniões desagradáveis ao governo. A liberdade que não significa isso é uma liberdade de comédia. A primeira e a última palavra da civilização é a segurança individual”. (Rui Barbosa)[1]

- A violência insidiosa e o medo, tal como um vírus predador, vai contaminando cada vez mais os habitantes das grandes metrópoles e das cidades do interior. As precauções individuais devem de ser redobradas, já que pouco se pode esperar do Estado que se diz Democrático de Direito.

- Em uma analise rápida, vejo que está cada vez mais difícil de encontrar alguém das minhas relações sociais que já não tenha sido contaminado pelos atropelos de furtos, roubos e trânsito homicida, quando não em morte. Minha própria família, já passou por momentos de violência: carro incendiado dentro da garagem propositalmente em Santo Ângelo/RS por uma quadrilha de menores piromaníacos. Tentativa de assalto na residência em ponta Grossa/PR. Assalto feito por menores em Manaus/AM, em uma rua dentro de condomínio fechado e com direito a arma branca no pescoço da minha esposa. Policia? Nunca chegaram a uma conclusão, nunca prenderam ninguém. Impunidade total!

- Esta semana chegou a vez de um amigo militar da reserva. Sua residência foi mais uma vez assaltada enquanto vistoriava o seu sitio, onde também ocorreram furtos de animais. Obviamente nada foi comunicado para os órgãos de segurança. Seria por descrédito? Por medo? Pela banalização da violência?

- Por este viés, me veio em mente à guerra civil não reconhecida pelo Estado e tão propalada pelo pesquisador e especialista em literatura médica Luis Mir[2]. Convém dizer que esta guerra já é aceita de maneira banal e incondicional pela população acomodada, a qual já não se importa com a invasão da sua privacidade a título de segurança. É uma liberdade dentro da escravidão?

- O recrudescimento da criminalidade na maioria dos estados federados da República Federativa do Brasil, com raras exceções, é um fato inquestionável para alguns pesquisadores. Em países cuja população é possuidora de uma educação de maior qualidade e cidadania iria para as ruas exigir mudanças, mas aqui, em terras da ex-colônia portuguesa, a ignorância, o medo e a Bolsa Família eleitoreira se tornam uma força estratégica para governos corruptos se manterem e para todos aqueles que sempre se locupletaram com tal situação.

- Fica obvio que muitos se aproveitam da leniência do Estado, afinal de contas o governo, assim como nos EUA, tem que ter um inimigo comum e permanente. Dessa forma, para preencher as lacunas deixadas pelo Estado na área da segurança, surgem novos ramos empresariais que estão a gerar milhares de empregos em vigilância privada[3], surgem milhares de empresas comerciais vendendo todo o tipo de parafernália eletrônica para a segurança de residências. Até no vestuário já temos ternos especiais resistentes a bala de fuzil para altos executivos das grandes empresas, além de carros blindados. Na construção civil surgem condomínios fechados milionários, uma espécie de prisão do bem, destinados aos cidadãos que buscam a segurança negada pelo Estado para as suas famílias.

- Não poderia esquecer, mas as organizações criminosas também prosperam nas sombras da República brasileira. Financiam para os seus associados empréstimos para que possam arquitetar seus planos de furtos, roubos e seqüestros. Chegam até mesmo a fornecer armamentos de guerra aos seus associados para a execução do seu mister. Por outro lado, também financiam cursos de direito nas melhores faculdades do país para os futuros advogados poderem defendê-los nos processos judiciais, financiam pessoas sem princípios éticos e morais para que possam atuar na política, como deputados, senadores, vereadores etc. Essas organizações criminosas empresariais também se preocupam com o social ao tomarem medidas de proteção na saúde, na educação e na alimentação para com as famílias de membros que estejam encarcerados pelo Estado oficial. A impressão é a de que existe um Estado dentro de outro Estado.

- Nas sombras desses governos, que se dizem democráticos, as corporações criminosas não tem limites. Recentemente em 2006 houve episódios reveladores da situação da nossa guerra civil não reconhecida pelo Estado. O PCC (Primeiro Comando da Capital) efetuou diversos ataques na capital em São Paulo, colocando de joelhos o governo estadual. O governo nega, mas existem indícios de acordo com os criminosos[4] (ou será que deveria de dizer guerrilheiros urbanos), para por fim aos ataques na capital paulista.

- No Rio de Janeiro em 2006, dez fuzis e uma pistola são furtados do Exército. Os militares invadem favelas em busca dos fuzis. Tal fato acaba prejudicando a venda de drogas que cai drasticamente. Os guerrilheiros do Comando Vermelho (CV) resolvem negociar[5] com o Exército. Fazem exigências para que os militares saiam da região, pois estão prejudicando o comércio das drogas e impõe a transferência de um guerrilheiro líder do CV de Bangu 1 para Bangu 3.

- Tudo resolvido, o Exército se retira com as suas armas surrupiadas de dentro de um quartel fortemente vigiado e tudo volta à normalidade para os criminosos e para o governo. Normalidade?

- Apesar das estatísticas, dos fatos cabais, das denúncias de órgãos internacionais, o Senhor Lula continua a tergiversar de maneira hipócrita, diz que tudo esta normal. Que somos felizes. Que tudo está sob controle. Ontem essa baboseira toda se repetiu novamente pela mídia. O povo, sem criticidade, ingênuo e até mesmo dominado subliminarmente, acredita no homem que pouco lê e pouco sabe dos crimes cometidos por alguns dos seus seguidores. Esse mesmo povo, que acredita até mesmo em urnas eletrônicas invioláveis, não consegue ver o péssimo nível da nossa educação e tampouco o aumento desproporcional dos homicídios nessa guerra civil interminável, mas dá ao governo do novo PT e partidos oportunistas margens altíssimas de aprovação. Isto sim é realmente fantástico, para não dizer uma comédia!

- A própria ONU reconhece que o Brasil possui uma das maiores taxas de homicídios do mundo, a qual oscila em torno de 48.000 a 50.000 mortes anualmente[6]. Vejam que são milhares de brasileiros mortos em uma guerra, que de acordo com alguns pesquisadores é contínua e necessária para o poder, no qual alguns integrantes seguem os ensinamentos de Maquiavel e de doutrinas que não deram certo nem na URSS, China, Cuba etc. e, além do mais, esbalda-se em corrupção igual como fizeram os seus antecessores nos últimos 500 anos.

- São cifras de uma guerra civil estarrecedora que no último período ditatorial eram baixíssimas, e agora todos nos vivemos uma escravidão dentro da liberdade, a qual aos poucos vai se tornando em uma nova ditadura muito pior do que a anterior. Por este pensamento, qualquer semelhança com o romance 1984 de George Orwell, não será uma mera coincidência.

- Nessas cifras estão incluídos os policiais mortos. A maioria foi trucidada em horários de folga, trabalhando em “bicos”, para poderem manter as suas famílias dignamente, já que os salários pagos são péssimos na maioria dos Estados brasileiros. Soma-se a isto o despreparo profissional, o medo, falta de humanização e a corrupção endêmica de muitos desses policiais civis e militares. Nada diferente do que a mídia (o quarto poder para alguns) mostra nos noticiários diários.

- Qual a ideologia de um Estado que não se preocupa com a segurança do seu povo e com seus próprios agentes de segurança? O que eles estão tentando implantar? Existe uma ideologia em pleno andamento, a qual está sendo implantada por fases?

- Tudo isto não deve causar surpresas, já que temos assaltantes de bancos, homicidas e terroristas dos anos 60 e 70 anistiados com o fim da ditadura militar. Na época ditatorial esses guerrilheiros defendiam uma ideologia que julgavam ser a melhor para o Brasil. Hoje muitos deles estão ocupando cargos políticos em diversos segmentos da política brasileira, mas agora que estão no poder alguns revelam as suas verdadeiras faces, não para o povo empobrecido de educação e de outros valores, mas para aqueles que ainda possuem uma visão histórica da verdade, compostura, dignidade, honra, patriotismo, honestidade, valores culturais e respeito para com a família.

- Nesse sentido, é lastimável ver hoje vários desses antigos revolucionários envolvidos em atos sórdidos de corrupção e enriquecimento ilícito. Muitos se tornaram pior ética e moralmente dos que estavam na política da época ditatorial ao permitirem a ampliação da corrupção desenfreada e da guerra civil camuflada a que estamos imersos diariamente.

- Abaixo uma pequena estatística da sombria realidade a que estamos sendo submetidos paulatinamente e banalizada pelo povo dominado.

Pesquisa realizada nos seguintes sites:

http://www.iraqbodycount.org/database/

http://www.conapub.com.br/acontece.asp?acao=lerNoticia&id=181&categoria=sustentabilidadeid=181&

http://oglobo.globo.com/pais/mat/2006/11/16/286692162.asp

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u368007.shtml

http://www.abin.gov.br/modules/articles/article.php?id=1880,



- Esta pesquisa apresenta um pequeno declínio insignificante de homicídios entre 2005 e 2006 nos homicídios e deve estar ligado com a questão da campanha do desarmamento, o qual pouco influenciou nas cifras macabras oficiais de homicídios.

- Ainda com relação ao desarmamento do povo, o governo já fala em retomar a campanha do desarmamento, mas as verdadeiras causas da criminalidade são acobertadas ou tenuemente combatidas. Vejam que os crimes não resolvidos neste País giram em torno de 92% e dos 8% restantes poucos são condenados definitivamente graças a lentidão e a uma infinidade de recursos a disposição dos criminosos de colarinho branco, máfias etc. Além do mais, a campanha do desarmamento não conseguiu influenciar os proprietários das metralhadoras, granadas, fuzis de guerra, bazucas, minas e outros armamentos de guerra. Quem sabe na próxima campanha, que será feita com muito dinheiro público, consigam sugestionar os guerrilheiros das favelas e bairros miseráveis das grandes cidades a entregarem seus supostos arsenais para as autoridades (des)governamentais.

- Agora vejam uma interessante estatística que mostra o Brasil em primeiro lugar em homicídios e o último em domicílio com armas de fogo. Isto coloca em cheque a questão do desarmamento no Brasil quando comparado a outros países:

ESTATÍSTICA DE HOMICÍDIOS POR PAÍS

PAÍS

POR 100 MIL HABITANTES

DOMICÍLIO COM ARMAS

BRASIL

27

3,5%

ESTADOS UNIDOS

6

52,0%

CANADÁ

3

30,0%

ITÁLIA

2

17,0%

FRANÇA

1,5

24,5%

SUÉCIA

1,5

15,0%

SUIÇA

1

35,0%

Fontes: Movimento Via Brasil, Movimento Viva Rio, Instituto Superior de Estudo da Religião, Polícia Federal, CPI do tráfico de Armas, publicado pelo jornal “ O Estado de Minas” em 24/7/2005[7].


- E o povo ingênuo, agindo como uma “boiada mansa”, aceita a conversa inútil do desarmamento, sem criticidade, sem debates, sem ver as verdadeiras causas do aumento da criminalidade: êxodo rural, bolsões de miséria nas grandes cidades, desemprego, péssimo sistema educacional, falta de perspectivas para os jovens pobres, corrupção generalizada, falta de nacionalismo, falta de valores nobres, núcleo familiar enfraquecido etc.

- A impressão que se tem é que os objetivos do desarmamento são outros, pois estarão facilitando o comércio ilegal das armas para as corporações criminosas internacionais. O governo está preocupado com o desarmando dos cidadãos de bem, talvez este seja o verdadeiro objetivo do grupo que está no poder, ou, talvez, daqueles que comandam esse grupo.

- No meio desse terrorismo urbano não oficial, por incrível que pareça, o Estado de São Paulo, salvo juízo maior, conseguiu tomar medidas que reduziu em 25,14% a taxa de homicídios no período de 2004 e 2005[8], mas apenas nesse período, já que algumas mídias mostram que São Paulo em 2008/2009, os homicídios retornaram com toda a força.

- Denota-se, dessa maneira, em São Paulo, que algumas políticas públicas, na área da segurança, estavam trilhando um bom caminho no período de 2004 e 2005. Os demais Estados da federação brasileira deveriam de se atentar para esse fato de que com uma vontade política leal, voltada sinceramente para o povo, algo raro em nosso País, sempre centradas em uma boa educação, no saneamento, na saúde, no fortalecimento da base familiar dos menos assistidos, no restabelecimento de referenciais afetivos ético-morais, controle eficaz da corrupção, punição rápida e contundente para os corruptos de colarinho branco, poderíamos diminuir em dezenas de milhares as cifras do genocídio anual do povo brasileiro nessa guerra civil insana, sem glória e sem heróis e o pior de tudo: com ranço orwelliano[9].

- Resistir é preciso. É necessário formalizar um caminho harmônico de interesses entre os diversos setores representativos da sociedade. É necessário formalizar um caminho de igualdade de oportunidades para todos para fortalecer a cidadania e estabelecer princípios de solidariedade para com os chamados excluídos, respeito pela vida e pelo meio ambiente, retornar velhos conceitos como patriotismo e nacionalismo. É necessário utilizar todos os meios pacíficos disponíveis para se opor ao domínio do Grande Irmão que sobrevive as custas dos milhões de excluídos da boa saúde e de uma educação de qualidade. É Necessário extinguir a força do Grande Irmão que sobrevive da desgraça de uma guerra civil não declarada, da impunidade dos poderosos e da corrupção generalizada que corrói as entranhas da Republica brasileira.

- Tenham sempre em mente que “é terçando as armas, que se aprende a lutar” (Camões).


[1] BARBOSA, Rui. Pensamento e Ação de Rui Barbosa. Organização e seleção de textos pela fundação Casa de Rui Barbosa. Brasília, Senado Federal, 1999.

[2] MIR, Luis. Guerra Civil: Estado de Trauma. São Paulo: Geração Editorial, 2004.

[3] Empresas de vigilância privada crescem com falhas do Estado na segurança. Disponível em http://www.usp.br/agen/repgs/2003/pags/015.htm. Acesso em 28 fevereiro2009.

[4] Governo faz acordo com Marcola – Rita Magalhões e Marcelo Godoy, O Estado de São Paulo, 16/5/2006.

[5] Exército negocia com o tráfico e retoma as armas – Rapahel Comide, Folha de São Paulo, 15/3/2006.

[6] ONU aponta que o Brasil tem uma das maiores taxas de homicídios do mundo. Disponível em http://www.portalaz.com.br/noticias/geral/119016_onu_aponta_que_brasil_tem_uma_das_maiores_taxas_de_homicidio_do_mundo.html. Acesso em 28 fevereiro 2009.

[7]Lojas Maçônicas. Estatística de homicídios por país. Disponível em http://lojasmaconicas.com.br/politica/estatistica_homicidios.htm. Acesso em 27 fevereiro 2009.

[8] Análise crítica do ensaio: O jogo dos sete mitos e a miséria da segurança pública no Brasil. Revista Jurídica Consulex nº 288 de 15/1/2009, pg. 30.

[9] Referência ao romance de ficção 1984 de George Orwell, publicado em 1949.