- Na abertura deste blog, iniciamos com uma matéria sobre educação superior, deixando desde já o alerta que sem educação de qualidade não teremos país nenhum.
- No Brasil, o obstinado e crônico atraso do sistema educacional brasileiro é histórico e tem sido reconhecido, analisado e discutido há mais de seis décadas com poucos resultados. A questão da educação no Brasil já suscitou muitas controvérsias, discursos e debates visando, supostamente, a sua melhoria. O governo fala em melhoria da qualidade de ensino e adota medidas sucessivas para a sua concretização, mas quando a sociedade se depara com a realidade dos docentes, discentes e das IES públicas/privadas e ensino médio a situação é muitas vezes deprimente. A quem tudo isto interessa?
- O resultado divulgado do ENEM pelo MEC em janeiro de 2007 mostra a calamidade da educação no Brasil. O resultado é o pior desde 2002. (Revista Veja. Rumos da educação - ed. 1995 p. 9, de 14/02/2007).
- Abaixo colocamos uma pequena entrevista com a aguerrida educadora Dra. Taffarel, uma mulher guerreira e de visão ampla que alerta para alguns dos males educacionais que afetam o nosso país.
“ENSINO SUPERIOR PÚBLICO: UM PROBLEMA DE TODOS”
- Muitas vezes tenho que responder questões que me são formuladas por pesquisadores das mais diferentes regiões do país que estão investigando o ensino superior. Algumas destas respostas compartilho com colegas, estudantes, docentes e demais pessoas da comunidade com quem mantemos trabalhos conjuntos - Movimentos Sociais, Escola pública, Pesquisadores em Rede , etc - para serem submetidas a critica. O presente texto visa justamente isto, submeter a critica, tanto as perguntas formuladas pelo colega José Vilsemar da Silva, de Manaus, bem como, as respostas que formulei a tais perguntas. Com isto quero defender a tese de que o problema da educação Superior no Brasil é um problema da sociedade em geral e que do enfrentamento e das respostas adequadas deste problema depende não somente o futuro de jovens mas também, o futuro de nossa nação brasileira que queremos independente, soberana, digna e feliz no conjunto de nações latino americanas e mundiais.
- Seguem as respostas.
Nome do educador(a): CELI NELZA ZULKE TAFFAREL
Faculdade/Universidade: Departamento III LEPEL/FACED/UFBA -
Data: 07 de maio de 2006.
- Respostas as questões formuladas por José Vilsemar da Silva - Aluno do Curso de Pós-Graduação em Metodologia do Ensino Superior da Faculdade Salesiana Dom Bosco de Manaus/AM.
1) QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES E DESAFIOS DO ALUNO UNIVERSITÁRIO?
- No Brasil são aproximadamente 5 milhões de jovens que estão condenados a ignorância - sem estudos, sem trabalho, vivem a merce das drogas, prostituição, negócios ilícitos e criminalidade, muitos morrendo antes de completarem 25 anos. Outros 5 milhões chegam a concluir o ensino médio e muitos deles não conseguem emprego porque não existe mais trabalho para eles. - Outros, que representam 1% da juventude brasileira chegam ao ensino superior público enfrentando problemas e adversidades que devem ser enfrentadas não somente por eles, mas por toda a sociedade. Para exemplificar podemos citar o exemplo da UFBA. No ano de 2005 foram 40 mil jovens inscritos para o vestibular da UFBA. Somente 4 mil ingressaram. 36 mil ficaram fora do ensino publico superior federal na Bahia.
- Portanto, os estudantes enfrentam problemas anteriores ao ingresso e problemas que se apresentam posteriormente ao ingresso. Temos que considerar que dos estudantes que ingressam no ensino superior existem os que ingressam nas Instituições Superiores Públicas - federais e estaduais e, os estudantes das Instituições Superiores Privadas e Filantrópicas.
- Os estudantes das públicas enfrentam as seguintes dificuldades:
a) Procedência sócio-econômica-cultural - quando filhos da classe trabalhadora chegam na universidade com limites teóricos determinados pela condição concreta de vida e pela pobreza cultural em que muitas famílias vivem, sem acesso a bens culturais como - equipamentos comunicacionais, computacionais, viagens, livros, revistas, jornais de qualidade e diversificados, para além da mídia de massas. Quando são jovens trabalhadores enfrentam a dificuldades de horários para estudos e pesquisa e muitas vezes para concluir curso, vez que, os horários das disciplinas são marcadas de acordo com conveniência dos professores e não das necessidades dos estudantes. Falta nas universidades a assistência estudantil que significa alimentação, refeitórios, saúde, bolsas de estudo, transporte, lazer.
b) Faltam professores porque os investimentos nas IES públicas estão reduzidos e existem muitas vagas preenchidas por professores substitutos, precarizados, sem condições de exercer plenamente o magistério superior, muitas vez, sem direito a votar em absolutamente nada do que diz respeito à vida universitária.
c) Faltam condições objetivas nas IES publicas - bibliotecas, laboratórios, recursos para projetos e programas que integrem ensino-pesquisa-extensão, recursos para informatizar setores.
d) Outra dificuldade é a matriz cientifica e tecnológica que as universidades estão privilegiando para produzir conhecimento e influenciar a formação dos jovens. Prevalece, é hegemônica a matriz de perfil positivista, empírico-analítica, com menor proporção a matriz hermenêutica-fenomenológica nas áreas das humanas e agora, com muita evidencia a chamada matriz “pós-moderna” com suas teorias altamente limitantes para enfrentar o colapso do processo civilizatório, em função de sua baixíssima perspectiva revolucionária. Sem teoria revolucionária não existe prática revolucionária. Este é provavelmente é mais um dos grandes crimes morais que se comete contra a juventude, mantê-la longe do acesso a teorias revolucionárias.
- Os estudantes das IES particulares e filantrópicas além de enfrentarem os mesmos problemas das públicas têm um outro problema mais grave, poder aquisitivo para manter pagamento de mensalidades para estudarem. A capacidade do salário da classe trabalhadora não comporta pagar alimentação, moradia, transporte, educação, saúde, previdência, assistência, lazer, e outras necessidades humanas vitais. Temos que lembrar que a maioria do povo brasileiro vive de salário mínimo. Em função do limite do poder aquisitivo da classe trabalhadora que estrangulou a ganância de lucro das particulares é que o governo Lula implementou o PROUNI E - OUTRAS MEDIDAS QUE APROFUNDAM A PRIVATIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO Brasil, o que é um crime político porque está destruindo a nossa possibilidade de construir um lastro nacional de ciência & tecnologia.
- AS DIFICULADES NÃO SÃO SOMENTE DOS ALUNOS - SÃO DIFICULDADES DO NOSSO PAÍS QUE O LEVARÃO A DEPENDENCIA DAS POTENCIAS IMPERIALISTAS.
2) O QUE ESTÁ FALTANDO PARA O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO MINISTRAR UMA BOA AULA?
- Muitos professores ministram boas aulas, mas sem salários justos, sem condições objetivas de trabalho, sem lastro cultural dos alunos, sem condições de integrar ensino-pesquisa e extensão não existe AULA BOA. Não é o professor que determina se uma aula e boa ou não - são vários fatores que tem nexos entre si e que são historicamente determinados.
3) QUAIS OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DA UNIVERSIDADE NA ATUALIDADE?
- Os principais problemas são:
1. Perda da autonomia financeira - medidas, procedimentos, programas estão privatizando a universidade submetendo-a as normas regras, lógica dos interesses do capital, do mercado, da burguesia e seus aliados.
2. Perda da autonomia de gestão - quem determina o que deve ou não ocorrer em termos de contratação de pessoal, patrimônio, diretrizes curriculares é o poder executivo e legislativo, o que significa submissão da universidade as políticas e programas de governo. Para verificar isto basta analisar os Planos de desenvolvimento Institucional das IFES. Eles incorporam a política de governo transformando a universidade em correia de transmissão do poder instituído no estado, ou seja, o poder da burguesia.
3. Perda da autonomia didática e cientifica com novos ordenamentos sobre fundações e a lei de inovação tecnológica. Analisem estes documentos e verifiquem o que acontece na universidade. Uma total submissão dos currículos e praticas a tais leis.
4. Perda de autonomia com a submissão da assessoria jurídica ao aparato do estado, eliminando das universidades do seu aparato jurídico.
5. Perda da autonomia com as parcerias público-privado que acentuam a perda da paridade, isonomia entre docentes, entre técnico-administrativos e ampliam a influencia do capital ditar rumos de pesquisas, currículos, projetos e programas no interior da Universidade.
6. Problemas em decorrência das péssimas condições do ensino básico no Brasil que está dificultando o letramento dos estudantes. Muitos chegam à universidade com sérias dificuldades e lacunas de conhecimentos, habilidades e competências.
7. Condições sócio-economica-cultural - quando filhos da classe trabalhadora chegam na universidade com limites teóricos determinados pela condição concreta de vida e pela pobreza cultural em que muitas famílias vivem, sem acesso a bens culturais como - equipamentos comunicacionais, computacionais, viagens, livros, revistas, jornais de qualidade e diversificados, para além da mídia de massas. Quando são jovens trabalhadores enfrentam a dificuldades de horários para estudos e pesquisa e muitas vezes para concluir curso, vez que, os horários das disciplinas são marcadas de acordo com conveniência dos professores e não das necessidades dos estudantes.
8. Problemas de pessoal docente e técnico-administrativos. Docentes com salários arrochados , sem condições dignas de trabalho e com constante ameaça da perda do regime jurídico único para contratação. Os técnico-administrativos vendo seus postos de serviço desaparecendo, sendo suas funções - segurança, laboratórios, contabilidade, etc. - terceirizadas, precarizadas, eliminadas, substituídas pelas fundações e outras empresas prestadoras de serviço.
9. As políticas compensatórias, focais, de caráter restrito sendo desenvolvidas nas universidades. Políticas de cotas, políticas de reserva de vagas, políticas de educação à distância, políticas de alivio a pobreza com segurança.
10. Substituição de regime de contratação - docentes são contratados de maneira precarizada - os substitutos e os técnicos administrativos são substituídos por empresas e fundações.
11. Condições objetivas de trabalho diferenciando-se as áreas dentro das universidades. As que cobram, privatizam são melhores equipadas, outras estão completamente sucateadas. Sem condições dignas de trabalho.
12.Perda da autonomia cientifica com a imposição de uma matriz cientifica & tecnológica e política - “alivio da pobreza com segurança” e a “nova governança mundial - centro-esquerda gerenciando os interesses do capital”.
13. REFORMA UNIVERSITÁRIA, ou contra reforma universitária do governo Lula. Medidas em separado que em seu conjunto significam o emprezariamento da educação a acentuação da mercadorização da educação, seguindo as intenções da Organização Mundial do Comercio que exige os serviços públicos privatizados, que exige a redefinição do papel do estado com a sua desresponsabilização de repartir renda através de serviços públicos de qualidade - educação, seguridade social - assistência, previdência, saúde - segurança, infra-estrutura, equidade no exercício do poder.
14. LEGISLAÇÃO - toda a nossa legislação educacional, projetos e programas de governo são determinados, gerenciados, monitorados pelas agencias internacionais. Isto decorre das relações internacionais do trabalho e das relações mundializadas do capital. Existe sim um PLANO MUNDIAL DE EDUCAÇÃO de interesse do capital. Já existem teses a respeito que merecem serem consideradas.
4) O QUE ESTÁ FALTANDO PARA O ALUNO UNIVERSITÁRIO TER UM BOM DESEMPENHO NO SEU CURSO?
- O desempenho do aluno - conhecimentos, habilidades competências globais cientificas, pedagógicas, técnicas, valores éticos e morais não se desenvolvem por si só, não dependem exclusivamente do aluno, não são um problema individual. São sim responsabilidades de uma política cultural, de lutas e resistências contra o neoliberalismo, contra a mundialização do capital, contra seus mediadores, que são as leis, as teorias e as praticas que se desenvolvem no modo de vida, no dia-a-dia.
- O problema tem que ser delimitado em uma matriz, tem que se identificada à lógica e as determinações históricas para que possamos dar respostas coletivas, com unidade teórico-metodológica e com determinação política para enfrentar o que for necessário o transformar o modo de se produzir à vida. Dar um basta ao modo do capital organizar a vida e partir para as experiências de caráter socialista.
Precisamos, no campo da Educação desenvolver teorias educacionais que superem as atuais explicações e que se traduzem em pedagogias reacionárias, como o são as pedagogias pós-modernas.
O DETALHAMENTO DESTAS POSIÇÕES AQUI RAPIDAMENTE EXPLICITADAS PODEM SER ENCONTRADAS EM TEXTOS NO SEGUINTE ENDEREÇO http://www.faced.ufba.rascunhodigital/ . Entrar em rascunho digital Celi Zulke Taffarel