segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

A REVOLUÇÃO DEVE PARTIR DA EDUCAÇÃO


- Conversando informalmente com alguns colegas educadores acabamos por descobrir situações até mesmo patéticas com relação ao nível de alguns acadêmicos.

- Em um determinado momento foi comentado por um colega que um dos seus alunos no sexto período da área de exatas não sabia fazer o elementar em uma multiplicação de dois números negativos (o sinal fica positivo).
- Um outro colega comentou que tinha descoberto um acadêmico, no terceiro período de veterinária, que tinha dificuldades sérias em escrever e de leitura, suas notas deixavam claro a sua dificuldade. O colega se perguntava como que o aluno tinha chegado ao terceiro período.

- Comentei que quando lecionava para o Ensino Médio me deparei com um número expressivo de alunos que tinham graves dificuldades em interpretar e expor suas idéias. Alguns não passavam de analfabetos funcionais e estavam concluindo o terceiro ano do Ensino Médio. Qual o futuro desses jovens? Quem foram seus professores? De minha parte eles aprenderam a História do Brasil e as consequências geradas pela má gestão desde a invasão dos portugueses até os dias atuais com todas as repercussões sociais e econômicas que influenciaram e influenciam ainda a vida dos meus alunos e de seus familiares. Pelo menos eles desenvolveram consciência do que é cidadania.

- Em uma pesquisa que realizei há alguns meses atrás em forma de questionário para acadêmicos e professores me deparei com respostas pobres e erros crassos de português por parte de acadêmicos e até mesmo de professores. Tive que ignorar uma boa parte, pois não deu para aproveitar muito.

- Essa situação mostra o quadro dantesco que vem se desenrolando a décadas no Ensino Superior e no Ensino Médio, não só nos Estados do Norte, mas em todo o Brasil, inclusive no Sul rico, valendo tanto para as instituições públicas como para as privadas as quais, infelizmente, são a maioria neste triste país.

- Qual seria a solução para o caos e o atraso crônico da educação no Brasil? Na minha modesta opinião, teria que haver a duplicação dos atuais 4% do PIB para, digamos, uns 8%. Isto colocaria o Brasil apenas a nível da Suécia e acima dos EUA, Japão, França, Reino Unido e outros países do chamado primeiro mundo.

- Obviamente que essa solução teria que estar atrelada a outras como, por exemplo, o aprendizado contínuo do educador para que possa orientar e auxiliar nos graves problemas sociais e ambientais que o mundo atravessa; a mudança no comportamento degenerado da maioria dos políticos brasileiros é de extrema importância para a consecução de uma boa qualidade para o ensino de todos os níveis; um salário expressivo para os educadores que teriam dedicação integral à educação e à pesquisa e uma RSU[1] (Responsabilidade Social Universitária) abrangente e contundente para as Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e principalmente para as privadas.

- Penso em um Brasil mais justo, com desconcentração de rendas, com políticos decentes e uma educação de qualidade, equilibrada na transdisciplinaridade, mas quando se vê a geração de meninos e meninas de 12 anos matando seus próprios parentes, se prostituindo ou sendo arrastados no asfalto até a morte por outros meninos e meninas eu vejo a distancia de termos uma educação ética/moral/social/ambiental frente mazelas da globalização.

- Sinto que a queimação de livros pode voltar com regimes totalitários e que a inquisição continua viva, basta olhar pessoas sendo torturadas e algumas até queimadas por grupos de criminosos cada vez mais fortalecidos à medida que o Estado anêmico se encolhe e segue as diretrizes da Nova Ordem Mundial. Tenho receio de que o “Nacional Socialismo” esteja mais vivo do que nunca e que a história do escritor Goerge Horwell na sua polêmica obra intitulada “1984”[2] ou na obra de Fahrenheit 451[3], do escritor Ray Bradbury estejam se concretizando, pois os “sinais” já estão nas mídias em geral e na própria globalização. Só não vê quem é cego ou quem já está dominado mental e espiritualmente pelo Big Brother globalizante.

- Por tudo isto, apenas com uma revolução que parta de uma educação transdisciplinar (Carta de Transdisciplinaridade - Disponível em http://www.suigeneris.pro.br/edvariedade_cartrans.htm) alicerçada na utopia da esperança, da justiça, da solidaridade, do amor, da felicidade, da práxis ética e amorosa coletiva é que atingiremos a maturidade social justa. Na situação atual só nos resta fazer o papel de um "beija flor". Vamos aumentar a resistência a esse totalitarismo global e insano, pois o futuro dependerá daquilo que semearmos agora.

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[1] De acordo com Vallaeys (2006), a RSU exige, numa visão holística, articular as diversas partes da Instituição em um projeto de promoção social com princípios éticos e de desenvolvimento social, eqüitativo e sustentável, para a produção e transmissão de saberes responsável e pela formação de cidadãos igualmente responsáveis (Revista da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior. N. 36 DE JUN.2006).

Um comentário:

O Corvo disse...

Concordo Visemar: os dispositivos de disciplina funcionam a pleno vapor, e hoje temos já em ação formas de controle social que em muito nos lembram as sociedades totalitáras esboçadas por Orwell e Bradbury.

Michel Foucault é um filósofo francês que realizou um trabalho importante de reflexão sobre os dispositivos de cntrole social que transformam o homem em um "Homo Sacer", pronto a ser sacrificado em nome do "corpus" social.

Deste modo, tudo aquilo considerado inadequado ou "doente", e que porventura possa prejudicar o funcionamento do organismo de estado deve ser sistematicamente combatido, isolado e inutilizado.

Por conseguinte, em nada nos admiriaria se declarassem que aqeles que pensam prejudicam o Estado e devem por isso ser presos e seus livros queimados. O problema é que os dispositivos de controle são tão eficazes que não deixam o indivíduo se transformar nesse leitor "subversivo". O horizonte é sombrio, demasiado sombrio!

um abraço,
Henrique Figueiredo - http://cinefilosofia.wordpress.com