quarta-feira, 7 de março de 2007

OS QUATRO MITOS DA EDUCAÇÃO

- A revista Veja de 7 de março de 2007 publicou um artigo interessante sobre “Os quatro mitos da escola brasileira” do escritor Sr. Gustavo Ioschpe, onde ele tenta desmistificar certos mitos tidos como paradigmas imbatíveis. Em alguns pontos ele realmente tem razão, mas em outros não.

- 1º MITO: O PROFESSOR BRASILEIRO É MAL REMUNERADO - Acredito que o Sr. Gustavo não está a par de determinadas características da vida de um professor brasileiro do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

- Estuda-se mais de 18 anos para se conseguir terminar um curso de nível superior. Se a pessoa pertencer a classe proletária, a situação piora, pois a maioria terá que ir para uma faculdade privada (maioria nesse país, em torno de 70%) e muitas vezes de péssima qualidade. É dessas IES privadas que formaram e estão formando a maioria dos professores para o Ensino Fundamental e Médio e que podem reproduzir lado ruim das falhas educacionais..

- Após conseguir uma vaga em algum estabelecimento escolar, o tempo de trabalho diário de um professor, na realidade, acaba perfazendo bem mais do que as quarentas horas referidas pelo Sr. Gustavo. Ele não computou as longas horas para a elaboração e correção de avaliações com qualidade, o preparo de uma boa aula, além de outros detalhes, como salas de aula com mais de 50 alunos.

- Concordo que é um erro comparar o salário de um professor com a dos professores do primeiro mundo, pois temos que analisar o PIB e uma série de detalhes, inclusive culturais.

- A realidade é que a remuneração que um professor ganha no Brasil, não supre as necessidades básicas. Vejamos: No Amazonas se ganha em torno de R$ 1200,00 por quarenta horas. Com esse salário terá que cobrir os gastos de aluguel ou prestação de casa própria. Terá que morar em favelas ou em bairros distantes. Uma parte desse dinheiro terá quer ir para a alimentação, transportes e ainda terá que sobrar para o lazer, higiene, educação e sem falar do pagamento de altas taxas e impostos para o Estado. Faço uma sugestão para o Sr Gustavo: O Senhor ficaria um ano vivendo apenas com esse salário na cidade de São Paulo ou Rio de Janeiro, inclusive sustentando a sua família. Acredito que teria então subsídios reais de aprimorar a sua idéia sobre o assunto.

- A título de curiosidade, no Paraná, em Londrina em 2003, houve um concurso para 17 vagas de coveiro para trabalhar no cemitério municipal. O Salário variava de R$ 650,00 a R$ 1204,00 e o nível exigido era o fundamental incompleto. Houve 17 mil inscritos, 28 cursavam o nível superior e três já possuiam o diploma universitário.

- Muitos professores para terem uma melhora em seus salários acabam lecionando na parte da manha em um colégio, na parte da tarde em outro e a noite em outro. É obvio que o profissional terá problemas de saúde, não poderá se qualificar. Alguns desistem da nobre arte de lecionar e partem para outros caminhos. Os alunos e a sociedade são os grandes perdedores. Repito novamente que são mais de 18 anos de estudos para se conseguir esse salário de R$ 1200,00 no Amazonas. Em muitos Estados do Brasil essa quantia é mais baixa ainda e em alguns casos até de R$ 500,00 ou menos. Seria interessante verificar qual a classe social dos professores predominante nas salas de aulas. Será que a maioria pertence a classe “A”?

2º MITO: A EDUCAÇÃO SÓ VAI MELHORAR NO DIA EM QUE OS PROFESSORES RECEBEREM SALÁRIO MAIS ALTO - Concordo com o Sr. Gustavo que o aumento do salário, por si só, não iria trazer melhorias no ensino, mas seria em conjunto um dos agentes que iria auxiliar no processo da qualidade do ensino e no contínuo aperfeiçoamento dos professores, pois estes teriam mais recursos financeiros para gastar com livros, seminários, cursos, palestras, etc. Esse aperfeiçoamento é necessidade premente para a “Era do Conhecimento” e quem sabe até para a salvação desse triste país mergulhado em corrupção crônica desde a época da invasão pelos portugueses em 1500.

- Com mais dinheiro no bolso e pressionado por um processo de qualidade educacional correto, sem interferência de BIRD, FMI, BANCO MUNDIAL, todos ligados ao “Consenso de Washington”, o professor iria chegar à sala de aula sabendo ensinar bem melhor. Ou será que não temos competência suficiente para seguirmos sozinhos sem a interferência desses agentes internacionais?

- 3º MITO: O BRASIL INVESTE POUCO DINHEIRO EM EDUCAÇÃO. – O Sr. Gustavo acha que o dinheiro é suficiente e até demais. Realmente o Sr. Gustavo não deixa de ter alguma razão se compararmos, por exemplo, o Brasil com a potência China que aplicou em 1997 apenas 2,3% do PNB de US$ (bilhões) 1.055,00 e aplicou em torno de US$ 20,00 por habitante/ano. A Índia que aplicou em 1997 apenas 3,3% do PNB de US$ (bilhões) 357,00 e gastou em torno de US$ 12,00 por habitante/ano enquanto que o Brasil aplicou 4,7% do PNB de US$ (bilhões) 784,00 e gastou US$ 225 por habitante/ano. Índia e China são países superpovoados e aplicam muito pouco em recursos para a educação, mas pelo visto o retorno para esses países é digno de aplausos, pois já estão inseridos como novas potências mundiais.

- A riqueza do Brasil dá margens para que se gaste bem mais em educação. Que tal uns 8% do PIB igual ao da Suécia? Daria certo? Provavelmente não, pois o histórico de corrupção que parasitou a Colônia, o Império e parasita a República com os seus sucessivos governos jamais iria permitir decência na melhoria da educação. Para aplicar bem aquilo que o Brasil gasta em educação teria que ter medidas duras para o combate dos criminosos de colarinho branco semelhante ao que ocorre nos EUA e China, mas pelo visto isto é uma utopia no Brasil. Isto me faz lembrar até de um antigo livro que estava no “index” do Estado há alguns anos atrás de autoria de Ignácio Loyola Brandão: “Não verás país nenhum”, apesar de que nessa época o Brasil era a 8ª economia do mundo. O que será que houve para perder tanto terreno assim?

- Portanto o Sr. Gustavo tem toda a razão: O dinheiro realmente é mal aplicado. A pergunta que fica é até quando nós, os “desengravatados”, teremos que agüentar, já que o gigante está deitado eternamente em berço esplêndido?

- 4º MITO: A ESCOLA PARTICULAR É EXCELENTE. – O Sr. Gustavo acha que não é bem assim e ele tem toda a razão. No último Exame Nacional do Ensino Médio, pelo visto foi um verdadeiro desastre, apenas duas escolas das 21.000 entre particulares e públicas se destacaram. As privadas foram ligeiramente um pouco melhor que as públicas, mas ambas muito abaixo do que teriam que ter obtido. Em 1º lugar, o Instituto Dom Barreto em Teresina/PI (um dos Estados mais pobre do Brasil) que é uma instituição privada e em 36º lugar a Escola Politécnica Joaquim Venâncio situada no Rio de Janeiro/RJ que é pública, na qual os alunos permanecem em torno de oito horas em sala de aula.

-A escola Dom Barreto simplesmente copiou com sucesso o ensino de qualidade ministrado na Finlândia e Correia do Sul. Aplicou em seus professores que ganham salários acima da média, estão em contínuo processo de aprimoramento, os alunos ficam mais tempo na escola (oito horas aproximadamente), entre outros ganhos para a qualidade. O recado está dado ao Estado que vive atrás de fórmulas mágicas há décadas. É só verificar o que deu certo e copiar. Será que interessa ao Estado e para a Nova Ordem Mundial?

- Para as escolas públicas o quadro é desalentador para a maioria, já que há décadas as autoridades governamentais brasileiras tentam achar a tal de formula mágica do bom ensino. Mesmo com o apoio da USAID (Agência para o Desenvolvimento Internacional), que depois de 45 anos esta deixando o Brasil, e dos conselhos do “Consenso de Washington”, ainda não conseguiram lograr êxito.

- Antes que me esqueça, algumas poucas escolas técnicas federais conseguiram algum destaque. O Estado pode ter descoberto a fórmula mágica para o sucesso, mas não a aplica de maneira geral. A pergunta é a quem interessa tudo isto? Não seria interessante o Estado se aprofundar no belo exemplo da escola Dom Barreto do Piauí?

- SE ALGUÉM QUISER SE APROFUNDAR NO ASSUNTO INDICO OS SEGUINTES LIVROS E SITES:

* FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR – ESTADO X MERCADO – AUTOR : NELSON CARDOSO AMARAL. * DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR – AUTOR SELMA GARRIDO PIMENTA/LÉA GRAÇAS CAMARGO ANASTASIOU. * GUERRA CIVIL – ESTADO DE TRAUMA – AUTOR: LUIS MIR. * EDUCAÇÃO E A CRISE DO CAPITALISMO REAL – AUTOR: GAUDÊNCIO FRIGOTTO. * A FUGA DA UNIVERSIDADE DE SUAS RESPONSABILIDADES - AUTOR: JORGE GREGÓRIO DA SILVA –MANAUS - BK Editora – FSDB. * A IGNORÂNCIA CUSTA UM MUNDO – AUTOR: GUSTAVO IOSCHPE. * CARTA DE TRANSDISCIPLINARIDADE. Disponível em www.unipazrj.org.br/transdisciplinaridade.htm . * PRESENÇA DA UNIVERSIDADE PÚBLICA Disponível em: www.fisica.uel.br/SBPC_LD/unipub.html


“O conhecimento dos livros traz cultura, o de si mesmo traz sabedoria. A cultura pode ser manipulada por interesses de ego, poder e dinheiro; a sabedoria jamais”.
(Ricardo Chioro)

“Desistir de aprender é egoísmo. Este é um ditado que eu gosto muito. Quando acalentamos o desejo de aprender mais, nossas vidas estarão repletas de genuína vitalidade e brilho”.
(Daisaku Ikeda).

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