domingo, 18 de março de 2007

A TODAS AS PESSOAS SENSÍVEIS QUE AINDA ACREDITAM EM UM MUNDO MELHOR.


- A disputa pela posse da terra entre índios e brancos nos Estados Unidos , a pouco mais de um século, gerou um dos mais incisivos e belos documentos em defesa da preservação da vida de que se tem notícia. É uma carta escrita pelo índio Seattle, cacique da tribo Duwamish, ao então presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1855.
- A carta permanece como um alerta para os que comandam o destino do planeta, onde muitos países continuam agindo como os bárbaros da antiguidade. Por onde passam só deixam o rastro da morte, da miséria, da dor e da devastação do planeta em nome do consumismo capitalista. A carta é uma profecia para o triste futuro que nos aguarda se não modificarmos a nossa maneira de aigr e pensar com sabedoria.
- Além do mais, a esperança a cada ano se dilui com o capitalismo predador materialista dos que sugam as energias do nosso mundo para manter e impor o modelo de vida dos países ricos e com um grande número de excluídos.
- Ou mudam a conduta dissonante com os princípios do Grande Arquiteto do Universo, ou será o fim da breve história dos humanos no planeta Terra.
- Vamos à carta:

-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

"O Grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra. O Grande Chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isso é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa da nossa amizade. Vamos, porém pensar em sua oferta, pois sabemos que, se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra.
- O Grande Chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas – elas não empalidecem.
- Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é-nos estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo. Cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho.
- O homem branco esquece a sua terra natal, quando, depois de morto, vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, a grande águia… são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos das campinas, o calor que emana do corpo de um mustang e o homem – todos pertencem à mesma família.
- Portanto, quando o Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar a nossa terra, ele exige muito de nós. O Grande Chefe manda dizer que irá preservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto vamos considerar a tua oferta de comprar a nossa terra. Mas não vai ser fácil, não. Porque esta terra é para nós sagrada.
- Essa água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás que ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumor da água é a voz do pai de meu pai. Os rios são irmãos, eles aplacam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão.
- Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo do que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora.
- Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecida a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança.
- Ele trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou miçangas cintilantes. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto. Não sei. Nossos modos diferem dos teus.
- A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isso seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende. Não há um sequer lugar calmo nas cidades do homem branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas de um inseto.
- Mas talvez assim seja por ser eu um selvagem que nada compreende. O barulho parece apenas insultar os ouvidos. E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo? Sou um homem vermelho e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de uma lagoa e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou recendendo a pinheiros.
- O ar é precioso para o homem vermelho, porque todas as criaturas respiram em comum; os animais, as árvores, o homem. O homem branco parece não perceber o ar que respira, ele é insensível ao ar fétido.
- Mas se te vendermos nossa terra terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar reparte seu espírito com toda a vida que ele sustenta. O ar que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu ultimo suspiro. E, se te vendermos a nossa terra, deverás mantê-la reservada, feita santuário, como um lugar em que o próprio homem branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores campestres.
- Assim, pois, vamos considerar tua oferta para comprar a nossa terra. Se decidirmos aceitar, farei uma condição. O homem branco deve tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem em movimento.
- Sou selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante do que o bisão. Nós, os índios, matamos apenas para sustentar as nossas próprias vidas.
- O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito, porque tudo quanto acontece aos animais logo acontece ao homem. Tudo está relacionado entre si. Tudo que fere a terra fere também os filhos da terra.
- Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados. Para que tenham respeito ao país, conta a teus filhos que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
- De uma coisa sabemos. A terra não pertence ao homem; é o homem que pertence a terra. Disso temos certeza Todas às coisas estão interligadas, como o sangue une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra agride os filhos da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida, ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer à trama, a si próprio fará.
- Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam muito tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias, eles não são muitos. Mais algumas horas, até mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes tribos que vivem nesta terra ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques sobrará para chorar sobre os túmulos de um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
- De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez um dia venha a descobrir. O nosso Deus é o mesmo Deus. Julgas, talvez, que podes possuir da mesma maneira como desejas possuir a nossa terra. Mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira. E quer bem igualmente ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. E causar dano à terra é demonstrar desprezo ao seu Criador.
- O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua poluindo a tua cama, e hás de morrer uma noite, sufocado nos teus próprios dejetos.
- Depois de abatido o último bisão e domado todos os cavalos silvestres, quando as matas misteriosas federem a gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios faladores (telefones) – onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águas? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça, o fim da vida e o começo da luta para sobreviver.
- Talvez compreenderíamos se conhecêssemos com que sonha o homem branco. Se soubéssemos quais as esperanças que transmite aos seus filhos nas longas noites de inverno. Qual visão do futuro oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã. Somos, porém, selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós, e por serem ocultos temos de escolher o nosso próprio caminho.
- Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometestes. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois que o último índio tiver partido e sua lembrança não passar de sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nessas florestas e praias porque nós as amamos, como o recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe.
- Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos , protege-a como nós a protegíamos. Nunca te esqueça como era essa terra quando dela tomar posse. E com toda a tua força e teu poder e todo teu coração, conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus ama a todos. De uma coisa sabemos: O nosso Deus é o mesmo Deus, essa terra é por ele amado e nem o homem branco pode evitar esse nosso grande destino comum”.

Nenhum comentário: