sexta-feira, 16 de agosto de 2013

VITIMAÇÃO DA MULHER NO CONTEXTO DOMÉSTICO

A pesquisa bibliográfica abaixo foi solicitado pela professora de um curso de extensão sobre Vitimologia em Portugal. Apesar do pouco tempo para elaborar essa pesquisa (curso de 40 dias), muitas verdades ali estão contidas. Com certeza essas verdades não irão agradar a muitos dos nossos administradores públicos, corrompidos pelo vírus da corrupção, além do descaso pela violência que recai sobre as mulheres, todos os dias, principalmente as mais pobres, negras e pardas. Tudo isso transforma a nossa  violenta Nação em um dos países mais violentos do mundo para com o sexo feminino. Violência essa que supera o que ocorre no Iraque e em outros países. Portanto, aqui também temos um Iraque, porém muito pior para as vítimas e com muitos benefícios para os vitimizadores, principalmente se forem poderosos e ricos.

 

 .-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

 

VITIMAÇÃO DA MULHER NO CONTEXTO DOMÉSTICO: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

RESUMO 


Este estudo tem por finalidade a abordagem das agressões gerais pelas quais a mulher passa no âmbito doméstico. Abordar as figuras da violência física, sexual, psicológica, moral e patrimonial. Neste contexto são apresentadas algumas das causas da violência de origem histórica do patriarcalismo e do colonialismo. A teoria da vinculação é abordada, verificando-se que a falta de vínculos afetivos na infância pode gerar, quando adulto, mais violência no âmbito doméstico. São observadas as consequências das agressões que resultam em traumas psicológicos e doenças. Na conclusão procura-se indicar algumas medidas para minorar a violência no âmbito doméstico. Sugere-se que no âmbito escolar, nos três níveis de educação, seja ministrada uma disciplina sobre o assunto, bem como a criação de agremiações composta apenas por mulheres para inibir a violência doméstica nos bairros, além de prestar ajuda para as vítimas e fazer denúncias sobre as agressões domésticas, o que ajudará a diminuir as cifras negras.

Palavras chaves: Violência doméstica, agressões, mulheres, patriarcado, doenças.

 

1. INTRODUÇÃO

        Apesar dos muitos avanços, a violência doméstica contra a mulher não regride, pois as causas não estão sendo erradicadas a contento, insistindo em permanecer como um aspecto cultural de uma sociedade de cunho patriarcal. Entre essas causas, em nosso estudo, iremos nos deter na herança do patriarcalismo, tipos de agressões e na teoria da vinculação como pontos referenciais das agressões que a mulher sofre no âmbito doméstico.
          Por esses parâmetros, os tipos de agressões mais característicos enfrentados na “violência doméstica contra a mulher, então, poderiam ser definidas em cinco pontos: violência física, violência sexual, violência psicológica, violência moral e violência patrimonial” (Sá; Shecaria (Orgs.),2008, p. 80).
          Outrossim, entender as causas, algumas seculares e, por conseguinte, os efeitos dessa violência somente poderão ajudar a incentivar atitudes preventivas primarias, as quais podem desaguar no poder legislativo e posteriormente no Sistema Judicial Criminal, além de incentivar mudanças culturais enraizadas pelo patriarcalismo. Ainda, sendo cabível, desenvolver uma filosofia de não violência para com o vitimador e vitimada principalmente no âmbito doméstico, visando mudanças culturais mais harmônicas de igualdade, liberdade e fraternidade, baseadas sempre na razão e na ciência. Nunca na desigualdade, discriminação e intolerância, características do sistema patriarcal capitalista vigente, o qual foi herdado desde os tempos do colonialismo e por diversos tipos de credos.
          Na sequência faremos uma breve analise dos tipos de agressões perpetradas contra o gênero do sexo feminino, geralmente ocorridos entre quatro paredes do lar.


2. VIOLÊNCIA FÍSICA
          Para a ocorrência da violência física, é necessário ter a existência de um instrumento ou apenas o contato corpóreo direcionado contra a pessoa vitimada.  A utilização de um instrumento ou o contato corpóreo, mesmo sem a ocorrência de lesão, já seria suficiente para configurar a violência física. Esta forma de violência doméstica é considerada a mais comum entre todas as formas de agressão (Sá; Shecaira, 208, p. 73).
          Nesse sentido, segundo os dados apresentados no Mapa da Violência 2012, o Brasil é um dos mais violentos países com relação a homicídios de mulheres. Apresenta uma taxa de 4,4 homicídios em cem mil mulheres, ocupando, entre 84 países, a 7ª posição. Portugal ocupa 72º posição com apenas uma taxa de 0,3 homicídios em cem mil mulheres durante o período situado entre 2006 e 2010 (Waiselfisz, p. 16).
          O instrumento mais usado contra a mulher continua sendo a arma de fogo na ordem de 49,2%, enquanto que nos incidentes masculinos chega a 72,4%. Os objetos de agressão cortantes ou penetrantes, objetos contundentes, estrangulamento ou sufocação e outros meios chamam a atenção pela maior incidência contra a mulher do que em homens (Waiselfisz, 2012, p. 10).
          Outrossim, a residência é o local onde ocorre a maior parte das lesões físicas, proporcionadas na maioria das vezes pelo próprio cônjuge, pelos genitores ou filhos. O ex-namorado ou namorado, além de vizinhos ou conhecidos também fazem parte dos casos de agressão à mulher (GARBIN et al, 2006 Apud BIAGIONI, p. 2568).


3. VIOLÊNCIA SEXUAL
          A violência sexual ocorre no âmbito doméstico em grandes proporções, cujos autores estão ligados à vítima como cônjuges ou companheiros.  A real dimensão dessa violência fica ocultada por ocorrer dentro da residência do casal, além estar presente em todas as classes sociais e em inúmeras culturas (PREVENÇÃO à Violência Sexual Contra a Mulher, http://www.ess.ufrj.br/prevencaoviolenciasexual /index.php/tipos-de-violencia-cometida-contra-a-mulher). Não se descarta a violência em menor proporção cometida contra a mulher por vizinhos ou conhecidos dentro do próprio lar.
          De acordo com PAIVA e FIGUEREIDO (2003) as consequências de abuso sexual da mulher acabam produzindo efeitos a curto e longo prazo, prejudicando as suas atividades diárias e apresentando uma maior taxa de absentismo.


4. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA
          A lei brasileira 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, define o que é violência psicológica em seu art. 7º: 

         [...] II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; [...].(Brasília- Lei Maria da Penha – Secretária Especial de Politicas para as Mulheres – Presidência da república. 2006, p. 17).

          Esse tipo de violência poderá estar consorciado com outras violências em todas as fases da vida, deixando marcas indeléveis, o que irá influenciar a pessoa vitimada para toda a sua existência, necessitando de orientação de especialistas da área.
          Nesse sentido, no Brasil, o Serviço Único de Saúde (SUS), de acordo com Wailselfisz (2012, p. 21), os atendimentos dessa modalidade de violência ocupa a segunda posição de atendimentos (20%), para uma faixa etária que vai do primeiro ano de vida, ou menos, aos sessenta anos ou mais, perdendo apenas para os casos de violência física (44,2%).
          Veja a tabela abaixo (Wailselfisz , Mapa da Violência 2012, p. 21): 
 
        Os números apresentados na tabela acima mostram que  22.265 mulheres foram vitimadas por agressões psicológicas, ocupando o 2º lugar na tabela. As agressões físicas ocupam o 1º lugar e em 3º lugar a violência sexual. Tudo interligado.
          Por este viés, Schraiber et al. (2007) comentam que ocorre uma superposição desses três tipos de violência, ou seja, física, sexual e psicológica, despontando uma estrutura inconveniente da violência física com a psicológica e a violência sexual com a física.
          Convém ainda salientar que os números de agressões psicológicas crescem ano após ano e apesar do Brasil possuir uma legislação das mais avançadas do mundo sobre violência contra a mulher, à situação real é muito pior se considerarmos que as cifras negras[1] não podem ser computadas.


5. VIOLÊNCIA MORAL
          Essa modalidade de violência não deve ser confundida com a violência psicológica, pois a violência moral procura atingir a honra da vítima utilizando-se de calúnia, difamação e injúria (crimes tipificados no Código Penal brasileiro). É normal que esteja congruentemente associada a outras formas de agressão, principalmente a física. É considerada uma das maiores cifras negras no contexto da violência doméstica (Sá; Shecaira, 208, p. 76).


6. VIOLÊNCIA PATRIMONIAL
           A violência patrimonial não é apenas a dilapidação de recursos financeiros e envolve outros aspectos, muito bem definidos pelo art. 7º, inciso IV, da Lei Maria da Penha, no Brasil, a qual assim aduz:
[...] IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;[...]

          Nesse sentido, essa modalidade é muitas vezes é usada pelo cônjuge ou pelo companheiro com objetivo de impedir que trabalhe, estude ou fique em completa dependência econômica do homem, satisfazendo o antigo brocardo machista hipócrita: “Rainha do Lar”.
          Todas essas agressões são geradas por várias causas que influenciam a qualidade de vida da mulher. Para se ter uma compreensão mais exata iremos ver algumas das causas geradoras da violência.


7. CAUSAS
          Existe uma infinidade de causas, como a herança cultural patriarcal (colonialismo), cujas consequências ainda são visíveis na sociedade de hoje. Por outro lado a Teoria da Vinculação merece um destaque muito especial, a qual tem ajudado a identificar algumas causas originadas na infância, o que leva o indivíduo, na vida adulta, a cometer agressões ou desenvolver forma de passividade frente às agressões.
          Outrossim, é importante que preliminarmente se diga, segundo Carvalho (2008, p. 22 apud Feeney), que a Teoria da Vinculação desenvolve um suporte para a análise do ponto de partida dos conflitos que envolvem relacionamentos centrados nas diferenças de cada indivíduo de como lidar com problemática conflituosa.
          A seguir faremos uma sucinta análise das causas da violência herdada pelo colonialismo e uma abordagem da importante teoria da vinculação.


7.1 CAUSAS HISTÓRICAS DA VIOLÊNCIA FAMILIAR
          No Brasil, há uma herança histórica oriunda do período colonial de cunho escravocrata, na qual a violência era a forma mais comum, com práticas hediondas praticadas pelos que aqui se instalaram, seguindo a filosofia de constrangimentos físicos e morais pregados pela metrópole (CIRO, 2001, p. 21, http://www.scielo.br/pdf/ spp/v15n2/8573.pdf).

          Por essa vertente:
A mulher e a terra eram metáforas uma da outra não só no sentido da exploração sensorial e sexual, mas também como meio de produção e de reprodução, como propriedades, tendo as mulheres sua sexualidade abusada ou controlada conforme os imperativos da colonização. Isso foi válido não apenas em relação às índias, mas também em relação às negras, às mestiças e às brancas. O controle, os estímulos e os influxos das mulheres foram relacionados ao seu papel de reprodutora de braços e de transmissoras de valores em função do interesse de colonização. Em função desse papel a mulher foi devastada e desgastada. (LACERDA, 2010, p.9).

          Esse aspecto histórico de colonialismo capitalista forneceu as raízes de uma estrutura patriarcal que ainda hoje influencia as agressões contra a mulher, pois se tornou uma prática cultural herdada, cujas leis coercitivas atuais tentam inibir. Neste sentido basta ver a denúncia feita por uma jornalista da revista Isto É (Daudém, p. 49): “entre 1980 e 2010, 92 mil mulheres foram assassinadas no Brasil, 43,7 mil somente na última década” e isto sem computar as cifras negras e as outras modalidades de agressão, as quais crescem de maneira assustadora ano após ano. Um retorno à barbárie com ares de anomia[2]  em muitas regiões do Brasil.
          Como se observa, as causas históricas tem um fator importante na conjuntura social da atualidade, na qual a mulher continua sendo alvo de agressões diversas, no entanto há outras causas provenientes da falta de vínculos afetivos durante o curto período da infância, como veremos a seguir.


7.2 TEORIA DA VINCULAÇÃO
          A teoria da vinculação (Portugal) ou teoria do apego (Brasil) tem por finalidade descrever mudanças dentro de um longo período de convivência entre pessoas. O aspecto de alta relevância dessa teoria fundamenta que um recém-nascido necessita desenvolver vínculos com a pessoa que lhe presta cuidados diários (pai, mãe ou ambos), o que irá refletir o grau do progresso emocional e social para mais ou para menos. Essa teoria é considerada um grande acervo de conhecimentos ligados às teorias da área evolutiva, da área psicológica e da área etológica (TEORIA do Apego, Wikipédia http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_apego).
          Nesse sentido, Paiva e Figueiredo (2003) defendem que realmente uma pessoa pode desenvolver atitudes emocionais construídas no decorrer do intercâmbio com a pessoa que lhe presta todos os cuidados emocionais e físicos ainda na infância, se não vejamos:

         Baseada nas experiências e nos padrões típicos de interacção com as figuras significativas durante a infância, cada pessoa presumivelmente constrói “modelos internos dinâmicos”, que se constituem em verdadeiros guiões do seu comportamento interpessoal subsequente, pois é a partir destes modelos que a mesma estabelece expectativas acerca do que pode esperar de si própria e dos outros quando uma relação se efectiva. Especificamente, os “modelos internos dinâmicos” incluem expectativas acerca da disponibilidade e da responsividade das figuras de vinculação que guiam as percepções e os comportamentos do indivíduo nas suas relações com as mesmas, vindo posteriormente, e no caso de serem mantidas, a ser aplicadas e por isso a influenciar as restantes relações interpessoais do indivíduo (Paiva; Figueiredo. 2003, p. 6. http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/
psd/v4n2 /v4n2a01.pdf).

          Por esses parâmetros fica cristalizado, através dos estudos empíricos, que os relacionamentos íntimos são de extrema importância. Crianças traumatizadas, abusadas, vítimas de maus tratos ou abandonadas é um indicador de carências afetivas (vínculo afetivo) nessa fase da vida. Na vida adulta acabam produzindo modelos “inseguros”, os quais serão observados durante a convivência habitual no relacionamento íntimo. Os maus tratos passam a ser uma possibilidade na vida adulta, tanto como vítima ou como vitimador, em suas relações interpessoais com as pessoas intimamente próximas. (Ballone GJ, Moura EC. 2008, www.psiqweb.med.br).
           Além disso, Ballone (2008) ainda complementa que a formação de laços “inseguros” seria oriunda das relações abusivas durante o período da infância. Essas relações abusivas, por sua vez podem ocorrer repetidas vezes nos relacionamentos também com as mesmas características de abusos em várias etapas da vida com destaque para os relacionamentos íntimos. 
                  Por outro lado, pessoas com experiências variadas estabelecidas pelos padrões de vinculação acabam desenvolvendo processos mentais diversos (crenças) relacionados sobre ele próprio e das pessoas que lhe cercam. Esses processos mentais trazem implicações na qualidade da vida íntima com o companheiro(a) (PAIVA; FIGUEIREDO apud  COLLINS& READ, 1990). Por exemplo, pessoas que desenvolvem um modelo de vinculação “inseguro” há uma tendência de ocorrer, no âmbito das conexões pré-maritais, um grau de inferioridade e de insatisfação quando comparados com pessoas que desenvolveram um modelo de vinculação do tipo “seguro” (PAIVA; FIGUEIREDO apud  Brennan & Shaver, 1995), “sobretudo quando aderem a estereótipos baseados no género” (PAIVA; FIGUEIREDO apud  COLLINS & READ, 1990).                 

          Outrossim, fica configurado que as consequências advindas dos maus tratos na infância perpetuadas pelo vitimizador (pai, mãe ou tutores) acabam afetando o bom desenvolvimento de uma criança e os reflexos se materializam em maior ou menor grau na vida adulta, na convivência íntima com a(o) companheira(o).
          Nesse sentido uma pesquisa feita em Portugal (PAIVA; FIGUEIREDO, 2004) envolvendo 318 estudantes (53,8% de mulheres), com idade entre 19 e 24 anos, demonstra a percentagem de vários tipos de agressões no relacionamento íntimo desses jovens. A pesquisa contribuiu para o conhecimento da prevalência dos vários tipos de abusos, além de sugestionar a criação de estratégias para o atendimento de acordo com o tipo de abuso e graduação.
          Portanto com a caracterização das causas sucintamente aqui analisada é importante verificar algumas das consequências geradas na vida das vítimas no âmbito domésticas, preferencialmente, mulheres. É o que veremos a seguir. 
       
8. CONSEQUÊNCIAS
            As consequências físicas e psicológicas advindas, tanto dos aspectos históricos do colonialismo imposto como das oriundas dos maus tratos durante o período da infância, comentadas, pesquisadas e analisadas pela teoria da vinculação, acabam sendo observadas todos os dias na atual sociedade e, o pior de tudo, em franco crescimento apesar do surgimento de legislações mais avançadas que combatem apenas os efeitos.
          Outrossim, para a Organização Mundial de Saúde (OMS) a questão da violência doméstica que atinge as mulheres virou uma questão de saúde pública. Um círculo vicioso foi configurado com as inúmeras busca dos serviços de saúde e o contínuo retorno, pois sua integridade física, emocional e a segurança são atingidas negativamente, o que provoca um aumento nos gastos na esfera de atendimentos (FONSECA; SOUZA LUCAS apud GROSSI, 1996).
          É incontestável que as vítimas da violência doméstica apresentam geralmente sintomas psicológicos tais como pesadelos, irritabilidade, insônia, falta de concentração, falta de apetite. Ainda a possibilidade de surgir problemas mentais e entre esses a depressão, a ansiedade, a síndrome do pânico e estresse pós-traumáticos. Pode apresentar também comportamentos autodestrutivos por meio de drogas, álcool e tentativas de suicídio (KASHANI; ALLAN, 1998).
          É importante ainda comentar que a violência, entre pai e mãe, observada por seus filhos tendem estes a desenvolver complicações de baixo rendimento escolar, serem mais depressivos, terem ansiedade, baixa autoestima e pesadelos. Poderão se tornar mais agressivas, além ocasionar um aumento no índice da possibilidade de abusos físicos, sexuais ou emocionais (DAY et al, 2003, p. 16-17).
          Dessarte, o comportamento de um pai controlador, abusando constantemente da mãe passiva dentro do lar, poderá induzir que o(s) filho(s) faça o mesmo na idade adulta e se for menina acabe aceitando a condição de passividade frente à violência do seu companheiro. A violência foi insculpida pelo sistema patriarcal histórico, porém com firmes raízes ainda hoje presentes na sociedade. Tudo combinado com os maus tratos sofridos durante a infância, como bem argumenta a teoria da vinculação.


9. CONCLUSÃO
          Apesar da legislação mais avançada, a violência contra a mulher não diminui, ao contrário, pois estamos inseridos como um dos países mais violentos do mundo em agressões contra o sexo feminino. Elas continuam sendo discriminadas, sendo assassinadas por seus pretensos “proprietários”, massacradas psicologicamente e sendo abusadas sexualmente, principalmente dentro da área doméstica, onde o silêncio, muitas vezes é a diferença entre viver ou morrer, pois o medo favorece as cifras negras.  
          Sendo assim, a hipótese do trabalho foi verificar a existência da violência doméstica e se realmente afetava o desenvolvimento social no âmbito doméstico da mulher, sendo que os objetivos foram localizar algumas das causas dessa violência e as consequências advindas desse processo de vitimização.
           O método de procedimento utilizado é o funcionalista, que enfatiza as relações entre os diversos componentes de uma cultura ou uma sociedade e suas funções, visto que considera toda atividade social como desempenho de funções. A técnica adotada foi à pesquisa exploratória bibliográfica com ênfase na violência doméstica, causas e as consequências advindas.
          Uma dificuldade encontrada na pesquisa foi exatamente a necessidade de mais tempo para o seu aprimoramento, já que o assunto é extremamente delicado, complexo e secular com relação ao contexto de violência pelo qual a mulher vem passando dentro da sociedade de origem patriarcalista e colonialista.
          Outrossim, os resultados encontrados na pesquisa foram a real existência de uma cultura de violência contra a mulher, herdado historicamente de um colonialismo imposto e do patriarcalismo, onde muitas mulheres continuam a ocupar posição inferior frente aos seus companheiros.
          Por outro lado, na abordagem da teoria da vinculação ficou demonstrado que crianças com problemas de vínculos afetivos podem desenvolver na idade adulta algum tipo de agressividade ou forma de passividade exatamente pela violência que sofreram, perpetradas por aqueles que deveriam de ter algum grau de compaixão e afetividade para com elas.
          Com relação às consequências ficou configurada a existência dos vários efeitos na saúde da mulher, tais como desequilíbrios psíquicos, surgimento de doenças psicológicas, medo, passividade etc., os quais provocam um círculo vicioso entre idas e vindas dos centros de saúde e programas de apoio às vítimas.
          Insta gizar, que outra consequência deletéria recai exatamente sobre as crianças que presenciam as várias formas de agressões de suas tutoras ou tutores. Tendem a reproduzir essa violência quando adultas para com os seus futuros parceiros, trazendo dificuldades sociais e materiais em suas vidas.
          Por todos esses aspectos, há a necessidade da criação de um maior número de organismos modelos que prestem apoio jurídico, apoio sociológico e apoio social para com as vítimas da violência doméstica, combatendo inclusive as causas da violência.
          No Brasil, muito já foi feito, mas não está sendo o suficiente, pois a violência contra a mulher recrudesce cada vez mais. Urge criar novos mecanismos, mais instituições de proteção a mulheres e crianças.
          Algumas instituições são verdadeiros exemplos a serem seguidos para a criação de outras, tais como a APAV (Apoio a Vítima), localizada em Portugal, a qual presta serviços gratuitos e especializados para com todas as pessoas que de uma maneira ou de outra são afetadas pelo crime. Em São Paulo, no Brasil, outro exemplo a ser seguido: projeto “Bem Me Quer” do hospital Pérola Brigton, o qual atende mulheres e crianças vítimas de violência sexual.  Mas tudo isso é pouco, muito pouco para uma Nação como a nossa fundada na violência escravocrata e no insano patriarcalismo resultante do colonialismo português.
          Outrossim, para realizar mudanças culturais em longo prazo na população, teria que ser iniciada através do bom conhecimento a ser ministrado intensivamente para as novas gerações. As escolas de nível fundamental, de ensino médio e todas as áreas de formação das universidades deveriam de ter uma disciplina específica sobre a violência doméstica e sobre o papel da mulher no contexto social frente às adversidades de uma cultura patriarcal violenta que insiste em permanecer viva e atuante na sociedade em geral e nas instituições ditas democráticas, na qual a participação da mulher é o mínimo.
          Outra possibilidade simples para inibir a violência doméstica é a criação nos bairros populares de agremiações composta apenas por mulheres para receber as denúncias de agressões e maus tratos e pressionar as autoridades locais, da área judicial e da saúde para uma solução mais eficaz e tratamentos especializados, bem como fazer as denúncias para as mídias nacionais e internacionais de apoio às vítimas. Tudo isto iria incomodar muitos os políticos demagogos, notadamente a maioria composta por homens.
          Enfim, finalizamos essa pequeno trabalho, tendo-se a consciência de que a situação é muito pior do que foi demonstrada nesses parágrafos, mas que serve para despertar a consciência desse grave problema social da violência contra as mulheres, o qual gera prejuízos incalculáveis para toda a sociedade. Que desse trabalho bibliográfico, se consiga formar pontos reflexivos sobre o assunto e enfatizar o surgimento de outros trabalhos de campo e bibliográficos, pois só com muito conhecimento ministrado no combate intensivo para com as causas é que a criminalidade contra a mulher no âmbito doméstico será domada e extirpada, com reflexos positivos em toda a sociedade.





[1] Cifras Negras (Ciffre Noir): São os crimes que não foram solucionados ou punidos e, consequentemente, não foram julgados. (http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1039612/em-que-consistem-as-expressoes-cifra-negra-e-cifra-dourada-priscila-santos-rosa).


[2] Anomia: Embora exista a lei essa não é eficaz, pois a sociedade não lhe reconhece, pautando a sua conduta como se não houvesse norma alguma, acreditando na impunidade. Também entende-se como falta de lei ou ausência de normas (http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/25318/o-que-e-anomia-em-que-ramo-do-direito-se-aplica).

REFERÊNCIAS

BALLONE GJ, Moura EC – Abuso nos Relacionamentos  Íntimos – in. PsiqWeb,  Internet. Disponível  em www.psiqweb.med.br  , 2008. Acesso em: 18 marc 2013.
BRASÍLIA. Lei Maria da Penha. Lei n° 11.340 de 07 de agosto de 2006. Coíbe a violência doméstica e familiar contra a Mulher. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Presidência da República. 2006.
CARVALHO, Ana Felipa Dias de. O estilo de vinculação em mulheres vítimas de violência conjugal. 2008. Disponível em  http://hdl.handle.net/10451/763. Acesso em 17 mar. 2013.
CIRO, Marcondes Filho. Violência Fundadora e Violência Reativa na Cultura Brasileira. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/spp/v15n2/8573.pdf . Acesso em 15 mar 2013.
DAY, Vivian Peres et al. Violência doméstica e suas diferentes manifestações. 2003. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rprs/v25s1/a03v25s1 . Acesso em 19 mar. 2013.
DAUDÉN, Laura. Mulheres Agredidas. Isto É, São Paulo, n. 2259, p. 46–51, 6 mar 2013.
GARBIN, Cléa Adas Saliba, et al. “Violência doméstica: análise das lesões em mulheres Domestic violence: an analysis of injuries in female victims.” Cad. Saúde Pública 22.12 (2006): 2567-2573.
KASHANI, Javad H.; ALLAN, Wesley D. The impact of family violence on children and adolescents. Thousand Oaks, Ca: Sage,1998.
LACERDA, Marina Basso. Colonização dos corpos: Ensaio sobre o público e o privado. Patriarcalismo, patrimonialismo, personalismo e violência contra as mulheres na formação do Brasil. 2010: Puc Rio – Certificado digital 0812079/CA. Disponível em http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0812079_10_cap_03.pdf . Acesso em: 16 mar 2013.
PAIVA, Carla; FIGUEIREDO, Bárbara. Abuso no contexto do relacionamento íntimo com o companheiro: definição, prevalência, causas e efeitos. Psic., Saúde & Doenças, Nov 2003, vol.4, nº.2, p.165-184. ISSN 1645-0086. Disponível em  http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/psd/v4n2/v4n2a01.pdf. Acesso em 15 mar.2013.
SÁ, Alvino Augusto; SHECAIRA, Sérgio. Criminologia e os problemas da atualidade. São Paulo: Editora Atlas, 2008.
TEORIA do apego. Wikipédia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do _apego. Acesso em 17 mar. 2013.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídios de mulheres no Brasil. Disponível em  http://mapadaviolencia.org.br/mapa 2012_mulheres.php. Acesso em: 12 mar 2013.
PREVENÇÃO à Violência Sexual Contra a Mulher. Disponível em http://www.ess.ufrj.br/prevencaoviolenciasexual/index.php/tipos-de-violencia-cometi da-contra-a-mulher. Acesso em: 11 mar  2013.
PAIVA, Carla; FIGUEIREDO, Bárbara. Abuso no contexto do relacionamento íntimo com o companheiro: definição, prevalência, causas e efeitos. Psicologia, saúde & doenças, 2003, 4 (2), 165-184.
SHARAIBER, Lilia Blima et al. Violência e saúde: estudos científicos recentes. 2006, disponível em  http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v40nspe/30630.pdf. Acesso em: 20 mar. 2013.


Nenhum comentário: