domingo, 25 de agosto de 2013

MÉDICOS ESTRANGEIROS E A HIPOCRISIA DE OUTROS

A hipocrisia de alguns profissionais da área de medicina chega a ser patética quando se posicionam, unilateralmente, contra a vinda de médicos de outros países. Procuram a todo o tempo desqualificar esses médicos e a própria atitude do governo. Outros chegam a dizer que é inconstitucional a contratação desses profissionais e até já estão providenciando uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)[1] junto ao STF.

O mais interessante é que o governo vem tentando contratar médicos brasileiros para prestarem seus serviços, por dois anos apenas, em áreas empobrecidas e desassistidas já há décadas pelos governos anteriores. O salário é em torno de R$ 10.000,00, no entanto a procura foi mínima, demonstrando assim um grande desinteresse em levar assistência para essas populações empobrecidas. Na realidade, a grande maioria desses médicos, preferem ficar nos grandes centros urbanos, perto de todas as comodidades que o capitalismo pode oferecer.

Muitos médicos brasileiros questionam também o conhecimento desses profissionais estrangeiros. Agem como se fossem totalmente capazes profissionalmente[2], mas, no entanto, entre os brasileiros, o número de erros médicos[3], muitos simplesmente crassos, crescem geometricamente. Se aplicarem para esses profissionais brasileiros um exame de ordem, semelhante ao que é aplicado aos bacharéis de direito pela OAB, o resultado teria altos índices de reprovação e colocaria em cheque os ensinamentos de dezenas de faculdades de medicina. Neste sentido, também deveria de ser feito um exame de ordem para os médicos estrangeiros, desde que também fosse aplicado aos brasileiros.

Outro detalhe interessante é a formação desses profissionais brasileiros em universidades federais.  A grande maioria pertence a uma classe social mais abastada. Estudaram ou estudam à custa dos impostos de todos os brasileiros, principalmente dos mais onerados, ou seja, os mais pobres. Um termômetro muito simples para se verificar essa diferença social, basta dar uma olhada no estacionamento dos alunos de Medicina, nos carrões do ano ali estacionados e depois dar uma pequena olhada no estacionamento do pessoal de História, Geografia, Administração etc. Pela roupa também se vê diferenças expressivas entre eles e os outros. Pelo menos aqui em Roraima e no Amazonas. No restante do País não deve de ser diferente. Para essa situação, esses acadêmicos de medicina, após terminarem o curso nas federais, deveriam de passar, no mínimo, dois anos em regiões empobrecidas do País por força de uma lei a ser criada.  Ah! Sim, já ia me esquecendo de que, provavelmente, a lei iria gerar uma ADI para proteger a fidalguia.

Outrossim, é bom que se diga que esses médicos estrangeiros passarão ocupar o lugar dos médicos brasileiros. Irão levar conhecimentos para as populações desassistidas e tratamentos simples, pois nesses locais se morre até mesmo por uma simples diarreia (caganeira). Aparentemente é o começo de uma nova era (se não for uma ilusão demagógica de um governo maquiavélico), pois esse governo atual desafiou essa classe de abastados corporativistas e está tentando dar mais atenção para as camadas miseráveis da população. Só espero que essa Constituição, repleta de retalhos e de falhas, não fique contra essas populações de miseráveis e se ficar contra, não teremos nenhuma novidade na história do País, pois esse sempre foi o quartel de Abrantes[4].

Agora, de nada adiantará o envio desses médicos para o interior do Brasil se o governo federal, governos estaduais e governos municipais não derem o devido apoio logístico, tais como alimentação, estadia, remédios e equipamentos médicos necessários. Se não for assim ficará estampado um golpe puramente eleitoreiro para enganar essas populações de miseráveis a votarem em seus senhores em 2014 e logo após tudo volta ao normal como dantes.

Com relação a essas populações desassistidas, repletas de mazelas de toda a ordem e tipos, fico a me perguntar: por que esses médicos corporativistas nunca entraram com uma ação de inconstitucionalidade dessa pouca vergonha secular? Por que os promotores de justiça nunca viram essa situação? E a AGU? E os partidos políticos? E os políticos? Veja que neste sentido, essas populações estão amparadas pela própria Constituição e o governo, aparentemente, está tentando mudar o rumo dessa normalidade deletéria que vai contra a Constituição. Será que vão deixar?

Enfim, vamos aguardar o desfecho de mais esse interessante capítulo novelesco da história social desse outro Brasil, o qual sempre foi marginalizado pela monarquia e pelos governos republicanos.





[1] Associaçãovai ao STF para barrar o Mais Médicos.

[2] AClasse médica vai para a UTI: raio X de uma uma imagem desgastada. O artigo é antigo, porém a situação nas últimas décadas só piorou.


[3] Processos por erro médico crescem 231% em seis anos.


[4]
“Tudo como dantes no quartel de Abrantes” é uma expressão de origem portuguesa, utilizada quando uma situação permanece sem alteração.

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