sexta-feira, 25 de março de 2016

Experiências com seres humanos


- Eles foram capazes de fazer muito mais do que o artigo abaixo.

- Imaginem o que eles já fizeram e a grande possibilidade de ainda estarem fazendo dentro dos porões sinistros e obscuros desses países que se dizem de primeiro mundo e defensores da democracia.

- Entre os que já foram denunciados podemos citar os EUA, França, Brasil, Suécia, Noruega e muitos outros. É a coisificação do ser humano. 

- Daí a importância da Bioética e de uma vigilância total por parte dos cidadãos livres, de bons costumes e com mais conhecimento.

- Para saber um pouquinho mais recomendo: Bioética e Direito, obra da Advogada e Doutora Tereza Rodrigues Vieira.



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Os créditos do artigo  seguir  pertencem a  Laura Jaël Kurtzberg, publicado em seu blog http://lauracodes.com/



Você, o Médico, ou Deus: Quem é o Dono de suas Células?

Em 1947, sete médicos foram condenados a morte após os Julgamentos de Nuremberga, por fazer experimentos cruéis e letais em prisioneiros nos campos de concentração nazistas. Os Aliados criaram o Código de Nuremberga – o primeiro documento internacional que determinou a importância essencial de um sujeito humano consentir antes de participar em testes e experimentos. No mesmo ano que os Aliados e os Estados Unidos denunciavam as atrocidades cometidas pelos nazistas, a média americana descobriu um experimento horrível que o próprio governo Americano tinha apoiado. Hoje conhecido como o experimento de sífilis de Tuskagee, começou antes da segunda guerra mundial e continuo por 40 anos, resultando na morte de 325 homens negros de Alabama por sífilis ou complicações relacionadas, além da infecção de 40 de suas mulheres e o nascimento de 40 filhos com sífilis congênita. [7] Os homens acreditavam que estavam recebendo tratamento médico de graça do governo, enquanto eles eram propositadamente impedidos de receber a cura para sífilis. Só 8 deles restavam vivos quando o Presidente Clinton pediu desculpas publicamente pelo racismo e injustiça cometida pelo governo americano.

Um médico extrai o sangue de uma das cobaias humanas de Tuskegee. Foto [9]
Em 2010 foi revelado que estes não foram os únicos vitimas de experimentos antiéticos de sífilis, pois os Estados Unidos tinha liderado outro estudo semelhante em Guatemala. [3] Precisamente nos mesmos anos que os médicos nazistas eram condenados em Nuremberga, médicos americanos infectaram pessoas saudáveis com sífilis, resultando na morte de 83 deles. O presidente de Guatemala, Álvaro Colom, chamou os experimentos de “crimes contra a humanidade”. [8] Experimentos científicos como estes, fora de ser de valor cientifico duvidoso, são claramente imorais e antiéticos. Mas o que acontece quando não é um humano sendo usado sem permissão, e sim uma parte do corpo dele? Foi isso que aconteceu no caso da linhagem celular HeLa, células cancerígenas que vieram do tumor de uma mulher chamada Henrietta Lacks. Sem o conhecimento dela o da família dela, suas células foram o origem da primeira linhagem celular e começaram a ser usadas em todo tipo de pesquisa. [5] Depois de Herietta Lacks ter morto de câncer cervical, os filhos dela ouviram falar das células da mãe, mas não entendiam de que se tratava. Depois ouviram como essas células eram vendidas a pesquisadores no mundo inteiro, gerando grandes lucros. Pouco a pouco foram entendendo a importância das células da mãe deles, mas explicaram isso de um jeito espiritual, usando trechos da bíblia. No livro The Immortal Life of Henrietta Lacks, a familia Lacks fala com a autora e explica que a mãe deles é um anjo, escolhida por Deus para ser imortalizada nas células dela.
Henrietta Lacks
Henrietta Lacks - foto do Harvard (4)

Hoje os filhos de Henrietta querem uma parte dos lucros gerados pelas células, mas a lei americana diz que quando uma parte do corpo – como uma amostra de tecido, células ou sangue – é dado para qualquer tipo de teste, a pessoa de quem originou não tem nenhum direito nem posse sobre esse material (e os filhos dela também não). Será que este jeito de colectar tecidos e células é ético? Hoje muitos médicos-pesquisadores americanos dão um formulário de consentimento para os pacientes liberar as amostras deles para pesquisa. Mas isto é só uma recomendação, e não a lei. Para a família Lacks, as células não representam só uma injustiça económica (outras pessoas ficam ricas com as células da mãe deles, enquanto eles não tem cuidado médico já que nos Estados Unidos não tem saúde publica). Eles também veneram as células como portadores de um anjo, e como uma parte de um corpo que a fé deles ensina que e um templo sagrado para o espírito santo. A religião cristã não é a única que considera que nosso corpo deve servir um poder maior. No candomblé, acredite-se que Oxalá e o dono do corpo, e este corpo deve ser integrado ao universo. Uma ideia importante é que no final da vida o corpo deve retornar a natureza. [1] Mas e se uma pequena parte deste corpo é mantido em laboratórios, longe da natureza que deveria ser o destino dela? Não tem respostas fáceis para estas questões, mas podemos aspirar a criar novos padrões de ética para pesquisa com tecidos e células. Um aspecto difícil será respeitar as religiões diversificadas das pessoas. O vice-presidente da Associação Americana de Escolas de Medicina David Korn é a favor de não pedir consentimento pelo uso de tecido, e acredita que todos são moralmente obrigados a contribuir a ciência. Mas ele falou ao New York Times que a única excepção poderia ser motivos de religião: “Se alguém diz que ser enterrado sem todas as partes dele irá condena-lo a vaguear para sempre sem conseguir a salvação, isso é legitimo, tem que ser respeitado”. [6] Só tem um problema – as pessoas não podem exercitar esta excepção especial se eles não sabem que o tecido deles poderá ser usado em pesquisa. Podemos observar dois casos muito diferentes para imaginar como será o novo padrão ético no futuro. O primeiro caso e aquele de Tom Slavin. Ele teve a sorte de ser informado pelo médico que o tratava por hemofilia que a sangue dele tinha um valor altíssimo de anticorpos contra a hepatite B. Slavin estava debilitado pela doença dele e precisava de dinheiro. Ele começou a contactar pesquisadores que estudavam hepatite B e vender os anticorpos dele. Eventualmente ele recrutou outros pacientes com sangue valorosa e criou uma companhia. [6] Mas ele também deu os anticorpos dele de graça ao pesquisador Baruch Blumberg, que usou eles para criar a vacina contra hepatite B. E fácil imaginar um futuro assim: pacientes são informados sobre o valor dos tecidos deles e começam a vender suas próprias amostras, entrando como novos accionistas no mundo capitalista da industria de biotecnologia. Outro caso bem diferente ocorreu em Arizona. A tribo Havasuapi mora no Grande Canhão em Arizona e sofre de uma taxa de frequência muito alta de diabetes. Com a esperança de achar a razão que a comunidade era tão susceptível a esta doença, deram amostras de sangue a pesquisadores da Arizona State University. Mas depois dos pesquisadores ir embora, a tribo nunca ouviu falar de algum resultado de pesquisa. Por meio de uma aluna na universidade que é parte da tribo, descobriram que as amostras de sangue deles foram usadas para estudar varias outras coisas, incluindo esquizofrenia e as origens geográficas da tribo, gerando resultados que contradizia as lendas tradicionais deles. Para a tribo Havasuapi, a sangue tem um significado profundamente espiritual. Apesar de ter assinado formulários de consentimento, se sentiram traídos pelos pesquisadores, que hoje estão proibidos de entrar em território Havasuapi. A tribo processou a universidade e ganho um acordo que inclui US$700,000 para a tribo, o retorno das amostras de sangue, e assistência social. [2]
Membros da tribo Havasuapi oraram sobre as amostras de sangue ao ir colectar-las
Foto do New York Times[2]

Este é outro futuro possível: os pesquisadores terão que pedir consentimento e perguntar sobre a religião e os desejos dos povos que dão amostras. Talvez terão funcionários em toda universidade dedicadas a manter contacto com quem doa tecidos ou sangue, informando-os sobre novas pesquisas e descobertas. Estes dois casos são do presente, mas poderão ser o padrão do futuro. E você, como você se sentiria ao saber que suas células foram utilizadas em pesquisas sem você saber?

Bibliografia
[1] Caetano, Vilson. “Em Torno Da Noção Do Corpo Nas Religiões Afro-brasileiras.” Tambores Da Liberdade. Instituto De Radiodifusão Educativa De Bahia, 2011. Web. <www.irdeb.ba.gov.br/tamboresdaliberdade/?p=446>. [2] Harmon, Amy. “Indian Tribe Wins Fight to Limit Research of Its DNA.” The New York Times, 21 Apr. 2010. Web. [3] Hensley, Scott. “U.S. Apologizes For Syphilis Experiments In Guatemala.” NPR, 1 Oct. 2010. Web. [4] Potier, Beth. “Filmmaker Immortalizes ‘immortal’ Cells.” Harvard Gazette. Harvard University, 2002. Web. <http://news.harvard.edu/gazette/2001/07.19/04-filmmaker.html>. [5] Skloot, Rebecca. The Immortal Life of Henrietta Lacks. New York: Broadway Paperbacks, 2011. pp.294-296 [6] Skloot, Rebecca. “Taking the Least of You.” The New York Times Magazine, 15 Apr. 2006. Web. <http://www.nytimes.com/2006/04/16/magazine/16tissue.html>. [7] “Tuskegee Study, 1932-1972.” Centers for Disease Control and Prevention, 30 Dec. 2013. <http://www.cdc.gov/tuskegee/index.html>. [8] “US Medical Tests in Guatemala ‘crime against Humanity'” BBC News. BBC, 10 Feb. 2010. Web. [9] https://pt.wikipedia.org/wiki/Estudo_da_S%C3%ADfilis_n%C3%A3o_Tratada_de_Tuskegee

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