sábado, 7 de abril de 2007

A BIOÉTICA E A CIÊNCIA

- Assistindo um documentário pela televisão, me chamou a atenção o lado nefasto de muitos cientistas e médicos que impuseram sofrimentos na humanidade em nome do capitalismo ou do socialismo. Acredito que nos últimos duzentos anos a ciência tem evoluído com rapidez comparada a uma fórmula de progressão geométrica, mas em termos morais a evolução é ínfima. Tem crescido na base da fórmula de uma progressão aritmética.

- É obvio que não podemos mais viver sem o amparo da Ciência. O futuro da própria humanidade está a depender das descobertas científicas.

- Até ai tudo bem, mas quando passamos a analisar o conteúdo ético e moral de muitas experiências, principalmente na área da medicina a situação não é tranqüilizadora, ao contrário é altamente preocupante.

- Graças as pessoas com um alto senso ético e moral fizeram e fazem denúncias de fatos que ofuscam e ofuscaram muitas democracias espalhadas pelo mundo, mas que, infelizmente, não são devidamente divulgados como deveriam de ser para a população em geral. Esses fatos mexem com a moral, que por sua vez é dependente da ética que acabou gerando a bioética.

- Mas afinal o que é ética, bioetica e moral?

- A definição de ética não é tão simples assim, pois ela pode ser encarada como um tipo de teoria sobre a prática moral. Prefiro ficar com a definição da Sua Santidade o Dalai Lama[1], que diz “é aquele que não prejudica a experiência ou a expectativa de felicidade de outras pessoas”. A moral na visão de Robert Henry Srour[2] seria um apanhado de valores e de regras de comportamento, um código de conduta que as coletividades adotam, quer sejam um país, uma categoria social, uma comunidade de cunho religiosa ou simplesmente uma organização. A bioética vem ocupar-se com os cuidados das particularidades e do conjunto de todos os seres vivos consigo mesmo, com os demais seres vivos e com a natureza que os cerca, pois busca solucionar e elucidar as questões éticas que surgem pelo progresso das tecnociências biomédicas.

- A bioética tornou-se um campo de reflexão e do renascimento da própria ética para o mundo globalizado.

- Denúncias de experiências em humanos, sem falar dos animais, nos levam a uma profunda reflexão para estabelecermos leis justas em um momento crucial para o destino da humanidade. O homem manipula geneticamente os animais, as plantas, destrói as florestas, polui os rios, provoca desequilíbrios. A biodiversidade está entrando em colapso. A manipulação genética do próprio homem já é uma realidade. Os defensores da eugenia estão se saindo vitoriosos, por isto existe a necessidade de regras claras. Eu particularmente não quero um mundo povoado apenas de humanos loiros e de olhos azuis.

- Todos nós estamos sendo atingidos por esses fatores negativos. Temos o direito de sermos protegidos de cientistas negligentes e sem escrúpulos, que se vendem por um punhado de moedas ou passam a servir a ideologias fanáticas, religiosas ou não. A comunidade internacional já se movimenta para a elaboração de leis nessas áreas críticas. Algumas já estão em vigor, mas falta um consenso geral por parte de muitos países.

- As leis relacionadas com a bioética devem de ser revisadas e ampliadas constantemente, sempre priorizando a proteção do ser humano e jamais as corporações biomédicas. Não deve haver nenhuma imposição de caráter religioso, mas observado de perto pelas instituições religiosas. A ciência é a esperança da continuidade dos humanos no planeta e jamais deveria de ser uma ameaça à biodiversidade.

- Para encerrar, coloquei abaixo apenas alguns exemplos citados no livro “Bioética e Direito”[3], de como alguns países e corporações poderosas manipulam o ser humano. Isto é apenas uma pequena parte do “iceberg”. Verdades vergonhosas que procuram esconder.

1) “De 1907 a 1948, mais de 50 mil pessoas, em sua maioria adolescentes, foram esterilizadas nos Estados Unidos por terem sido consideradas fracas de espírito, epilépticas, delinqüentes sexuais ou criminais”;

2) “A Suécia, entre 1935 e 1976, manteve um programa secreto de esterilização compulsória de pobres, doentes ou etnias impuras. Tal fato se deveu à redução dos gastos do sistema de seguridade social constituindo uma raça pura”;

3) “Na Suíça, Noruega, Finlândia seguem o mesmo exemplo acima e a Dinamarca, impõe uma lei a esterilização em mulheres com Q.I. inferior a 75”;

4) “Entre 1932 e 1972, trezentos e noventa e nove negros portadores de sífilis, em sua maioria pobres e analfabetos serviram, sem saber, de cobaias humanas aos serviços de saúde governamentais que queriam estudar a progressão da doença com ausência de cuidados”;

5) “Em 27 de agosto de 1997, o governo americano divulgou relatório onde afirma que o Pentágono realizou 2.389 experiências com material radioativo em humanos desde 1944”;

6) No Brasil fizeram a aplicação ilegal em 3.103 mulheres dos anticoncepcionais Norplant R. e Norplant II, ocasionando forte sofrimento em um vasto número de brasileiros por um laboratório nova-iorquino e fabricado pelo Leiras Pharmaceutical da Finlândia”;

7) Em junho de 1997 uma revelação sobre o assunto chocou a Austrália. Crianças pobres e filhos de mães solteiras foram usadas em testes de vacinas de herpes, coqueluche, gripe e outras doenças, por vinte e cinco anos, entre 1947 e 1970.



[1] LAMA, Dalai. Uma ética para o novo milênio. Rio de Janeiro: Sextante, 2000, p. 58.

[2] SROUR, Robert Henry. Ética empresarial: posturas responsáveis nos negócios, na política e nas relações pessoais. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 29.

[3] Vieira, Tereza Rodrigues. Bioética e Direito – São Paulo – Editora Jurídica Brasileira – 1999.

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