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Milhões de brasileiros nem sequer ouviram falar sobre um episódio importante da nossa história. A impressão que se tem é que a República brasileira tentou jogar no esquecimento da história os fatos de muita barbárie e crimes de guerra que ocorreram durante a Guerra do Contestado.
A Guerra do Contestado (1912-1916) completa, em outubro de 2012, cem anos e mesmo com a pouca divulgação desse trágico período, que enoda o Brasil, a história continua viva.
Esse episódio, para alguns historiadores, é mais importante do que a Guerra de Canudos (1896-1897), na qual também houve o massacre de colonos pelas tropas militares da República Velha, muito bem explanada no livro “Os Sertões” de autoria do jornalista Euclides da Cunha.
Como sempre, na história do Brasil, os poderosos da política republicana estavam sendo incomodados por colonos empobrecidos e esquecidos pelos tiranos que governavam o País apenas para poucos.
Por outro lado, os colonos tiveram a ousadia de reivindicar a devolução das suas terras, nas quais labutavam a mais de um século e que, na época, foram repassadas, em uma grande negociata do governo brasileiro, a um capitalista norte americano, em uma região que ficava entre o Paraná e Santa Catarina, para a construção de uma via férrea, a qual iria beneficiar apenas alguns poucos e ainda permitiria a devastação das florestas de pinheirais (araucária e outras espécies nobres), cuja madeira seria exportada para a reconstrução da Europa, abalada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Na negociata, o americano ficou com uma extensão de 15 km de terras na margem esquerda e direita da linha férrea, prejudicando ostensivamente os colonos miseráveis da região.
Nessa história toda, algo me chamou a atenção. O advogado da maior serraria estrangeira da América do Sul, a Southern Brazil Lumber & Colonization Co. Ind (1910-1915), a qual devastou a região e descriminava, ostensivamente, os nativos do local foi Rui Barbosa. Durante a guerra esse advogado era senador da República. Ele sabia das barbaridades que ocorreram na região do Contestado. De acordo com alguns historiadores, esse senhor ainda fazia lobby para essa empresa estrangeira.
Outrossim, poucos lucraram com essa negociata e a grande maioria foi excluída. Ou seja, os ricos ficaram mais ricos ainda e os pobres empobrecidos ainda mais. Essa linha férrea, ao contrário de muitas outras regiões, não trouxe nenhum benefício para os mais pobres. Apenas mortes e devastação ambiental com a destruição das milenares florestas de araucária.
Destarte, os colonos, empobrecidos pelo abandono do governo, sem escolas, sem estradas e sem empregos ficaram sem as terras, sem o sustento para as suas famílias e criações de animais. Seriam ainda discriminados pelos estrangeiros que passaram a devastar e a ocupar as suas terras sob o olhar discriminador e racista dos tiranos para com os brasileiros que questionavam a perda das suas terras.
Após o fim da construção dessa linha férrea, pelo capitalista norte americano, milhares de pessoas oriundas de várias partes do Brasil ficaram desempregadas e a situação social piorou ainda mais na região.
Sendo assim, o descontentamento cresceu, os colonos com os seus filhos e mulheres, sem alternativas, se organizaram e iniciaram ataques aos invasores com foices, facões e espadas feitas de madeira. Mulheres e crianças também lutaram nessa guerra, a qual foi considerada a maior rebelião de camponeses da América do Sul, para a vergonha da corrupta República brasileira .
Tal fato e ousadia dos colonos acabou por despertar a ira dos estrangeiros, dos governantes locais e a ira do governo brasileiro, o qual, vergonhosamente, chamou o exercito para combater os insurgentes com a finalidade de proteger o capital estrangeiro, em vez de tentar uma saída digna para os colonos brasileiros e suas famílias.
Muitos oficiais e soldados já haviam participado do massacre de Canudos e ali estavam para mais uma chacina de brasileiros excluídos. Iriam trucidar crianças, mulheres, famílias inteiras que apenas queriam terras para trabalhar, mais respeito e dignidade pelos governantes.
Armamentos sofisticados para época foram utilizados, inclusive aviões para bombardear os revoltosos, o que acabou não ocorrendo devido a pane no avião. Assim iniciou-se mais um massacre de camponeses pelos donos da República Velha (1889-1932), porém os insurgentes iriam resistir por quatro longos anos até serem trucidados por completo.
É interessante observar, que passado tanto anos, nenhum dos insurgentes tiveram seus nomes preservados em alguma rua de cidade, mas o nome dos coronéis e militares que trucidaram até crianças e mulheres, alguns destes viraram nome de ruas. Coisas do Brasil.
Apesar do tempo, essa guerra ainda gera efeitos nessa região devastada, onde a pobreza até hoje permanece no meio dos descendentes e sobreviventes da Guerra do Contestado. O racismo e a falta de escolas são identificadores comuns nessa região.
Ademais, um detalhe importante é que, ainda hoje, há alguns sobreviventes centenários desse trágico evento. São os filhos dos insurgentes que hoje se sentem mais a vontade para contar histórias macabras da chacina dos seus pais, parentes e amigos, pois eram crianças na época.
Só para ilustrar, recentemente (2011) foi lançado um documentário por um dos maiores cineastas do Brasil, Sylvio Bach, sobre a Guerra do Contestado, porém, infelizmente, parece que está sendo pouco divulgado. Sylvio Bach, na realidade está retornando ao tema, pois chegou a fazer um filme em 1970, a Guerra dos Pelados (Guerra do Contestado), disponível no You Tube.
Enfim, para complementar este assunto coloquei abaixo alguns vídeos com maiores detalhes do massacre, postados no You Tube, sobre esse importantíssimo evento trágico ocorrido há cem anos, cujos os efeitos ainda perduram para a vergonha dos governantes do local.
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DEPOIMENTOS DE SOBREVIVENTES DA GUERRA DO CONTESTADO
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GUERRA DO CONTESTADO I
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GUERRA DO CONTESTADO II
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