quarta-feira, 16 de maio de 2007

SOMENTE A EDUCAÇÃO PODE IMPEDIR O FIM DA ESPERANÇA DE SE TER UMA JUSTA MEDIDA PARA AS CIDADES

- Argumento muito sobre o assunto educação, pois sem ela não iremos delinear novos caminhos e superar a crise social e ecológica gerada por paradigmas pétreos centrados principalmente no economicismo de um modelo fracassado. Não é para menos, pois basta verificar o contra-senso social, ecológico e visual em que a maioria das grandes cidades estão inseridas. Elas refletem o nível de educação de um povo e dos governantes escolhidos. Refletem a inclusão do bem estar social de poucos e a exclusão da grande maioria. Centenas de milhares de pessoas sem moradia, atendimento de saúde precário, centenas de milhares de jovens sem perspectivas, miséria, violência, fome, tráfico de órgãos humanos, tráfico de drogas, trabalho escravo, racismo e corrupção que atinge todos os setores da máquina estatal, inclusive o judiciário, o executivo e o legislativo. À medida que as cidades são expandidas sem o devido equilíbrio, a devastação se faz presente. Córregos de águas cristalinas e cheias de vida transformam-se em fétidos esgotos transmissores de um número sem fim de doenças, milhares de árvores são abatidas e surgem ruas e avenidas por onde circulam lentamente milhões de veículos automotores poluentes. As pessoas apenas respirando os gases venenosos expelidos para a atmosfera circundante. Se estivesse vivo, Dante teria bons motivos para alterar a sua obra a “Divina Comédia”, na parte em que narra a passagem pelo inferno ao observar algumas grandes cidades do século XXI, entre elas Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus.

- Alguns poucos sabem que a origem desse desequilíbrio está na forma da maneira de como se pensa e se age. A ciência já está provando que o pensamento é energia e tem repercussões nas coisas que rodeiam o ser humano. O homem se converte naquilo em que pensa para o bem ou para o mal e as suas cidades não passam de um reflexo dos seus pensamentos criadores. Obviamente, por dedução é que não se pode esperar muito dos políticos que governam essas cidades, pois semelhantes acabam atraindo semelhantes. É a Lei da Atração seguindo o seu curso.

- Urge que ajam mudanças para que se possa refletir sobre as verdades ocultas e humanizar a corrente tradicionalista, tecnicista e economicista que dominam a sociedade humana e as suas cidades, pois estas correntes interferem no equilíbrio planetário e além do mais, no quesito educação visam apenas o aspecto pragmático do ensino superior, deixando de lado outras vertentes importantes do ser humano que merecem ser despertadas e trabalhadas. Se isto acontecesse acordaríamos para a delusão dos grandes centros urbanos e se estabeleceria os mecanismos necessários para as grandes mudanças sociais e ambientais. Nesses grandes centros urbanos é que se vê a realidade deletéria, temos pessoas adormecidas e passivas às atrocidades mentais diárias. Os mais cônscios sabem disso e muitos não contestam, não agem, estão adormecidos para uma realidade que poderia trazer o equilíbrio para todos. A desumanização desses grandes centros urbanos deixa claro o caminho sem volta que está sendo tomado.

- A situação é tão grave que até algumas religiões estão se adaptando ao economicismo mórbido, onde apenas o individualismo prepondera e movimentam a massa ignara, bem a gosto da elite dominante.

- A única maneira de alterar essa ordem predadora e termos alguma chance real para a continuidade da própria espécie humana seria através da educação correta, desde o Nível Fundamental até o Ensino Superior. Reconhecendo e aplicando os conhecimentos propostos por Edgar Morin, Freire, João Viegas Fernandes e por outros grandes pensadores. Rever urgentemente a descoberta de Johm Nash[1] surgidas no início da década de 50 na famosa universidade de Princeton que demonstrou como incorretas as teorias integralmente baseadas nos pressupostos básicos da Adam Smith e sobre o individualismo. As descobertas de Nash foram ocultadas, pois não seria do interesse de uma elite ligada na época ao mercado de energia, na qual até a família do atual presidente americano fazia e ainda faz parte.

- Se as descobertas de Nash tivessem a repercussão devida, com certeza as piores conseqüências da globalização teriam sido detidas.

- Essas mudanças terão que ser de imediato, pois a elite dominante terá que rever os paradigmas do modelo predador imposto ao mundo.

- Se insistirem em manter o atual padrão economicista predador/biocida por não mudarem a maneira de se pensar e de se agir, as duas crises geradas no âmago desse sistema já estão em pleno andamento. Trarão mudanças de maneira drástica e com previsões catastrófica para todas as cidades do planeta. Estamos falando da já citada crise social e ambiental, as quais já se fazem sentir no mundo inteiro.

- As sábias palavras do escritor e professor LEONARDO BOFF[2] dão uma clara pista do caminho que deveria de ser seguido:

- A justa medida garantiu que o cosmos e a vida chegassem até nós hoje. As culturas sobrevivem à medida que se regem por esse principio, chamado de regra áurea. Ao abandoná-lo, desestrutu­ram-se e morrem. A nossa é absolutamente sem medida em todos os campos. Daí a proximidade de sua dissolução.

- Que é a justa medida? É o equilíbrio entre o mais e o menos. É o ótimo relativo. É a sabedoria de lidar com os recursos limitados, naturais e culturais, de tal maneira que possam durar o mais possível ou possam se regenerar e reproduzir. A sustentabilidade de cada ser ou de qualquer ecossistema depende da justa medida. É ela que faz frente à lei inexorável da entropia, do desgaste irrefreável de todas as coisas. Sem a justa medida, tudo acaba antes e morre mais cedo. Com a justa medida, tudo se prolonga e vive mais longamente.

- Cabe a Escola, com ensinamento transdisciplinar, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior, modificar o paradigma economicista que atomiza, que provoca divisões, que desumaniza e deveria de estabelecer novos paradigmas emergentes da física quântica, das relações entre todos os seres vivos e o meio ambiente em que vivem, da cosmologia, enfim das ciências da mãe Terra ou Gaia, na qual todos estão ligados a tudo.

- Quando essa educação for concretizada, sobrepujando o velho sistema institucional predador, somente a partir daí é que teremos uma administração social mundial equilibrada dentro de uma justa medida.

- Se isto não acontecer em médio prazo o caos tomará conta de todas as cidades. Será o fim da esperança e o começa da sobrevivência. É uma bomba relógio com hora certa para explodir. Quem a montou nos últimos cem anos tem pouco tempo para neutralizá-la.

“Por sobre os pântanos escuros crescem os lírios mais bran­cos. Por sobre as ruínas das antigas cidades maias crescem as árvores mais frondosas. Algo assim ocorrerá com a civilização emer­gente”. (Leonardo Boff)

- BOFF, L. A perigosa travessia para a república mundial. In: Araújo, Washington. Quem está escrevendo o futuro? 25 textos para o século XXI. Brasília: Letraviva 2000




[1] John Nash, matemático, professor e Prêmio Nobel de Economia cuja vida é retratada no filme “Uma Mente Brilhante” (A Beautiful Mind).

[2]Teólogo, escritor e professor da UERJ.

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