sábado, 12 de maio de 2007

A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE NO BRASIL É UMA UTOPIA?

- Manaus, AM, 3 de maio de 2007.

- No Brasil, o obstinado e crônico atraso do sistema educacional brasileiro é histórico e tem sido reconhecido, analisado e discutido há mais de seis décadas, para não dizer a mais de cem anos, com poucos resultados. A questão da educação no Brasil já suscitou muitas controvérsias, discursos e debates visando, supostamente, a sua melhoria. O governo fala em melhoria da qualidade de ensino e tem adotado medidas sucessivas para a sua concretização, mas quando a sociedade se depara com a realidade dos docentes, discentes, das Instituições de Ensino Superior (IES) públicas/privadas e Ensino Médio a situação é muitas vezes deprimente e até mesmo desesperadora em muitos casos. Não podemos nos esquecer que foram as IES que formaram os líderes que hoje dirigem as instituições públicas e privadas, colocando em prática aquilo que aprenderam em ciência, tecnologia e ética, porém esses profissionais também reproduzem a má preparação com reflexos em todas as atividades humanas. As conseqüências são vistas diariamente pelas mídias em geral na sociedade brasileira.

- As causas da má qualidade são muitas, inclusive com interferências de organismos estrangeiros. Mais recentemente, em 1989 ocorreu uma reunião, sob a liderança dos Estados Unidos, a qual entrou para a história como Consenso de Washington[1], com a participação efetiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), funcionários do governo americano e especialista em assuntos latino-americanos. Nessa reunião não foram abordados temas sobre a educação, pobreza, saúde e distribuição de rendas, mas estabeleceram as diretrizes que iriam afetar indiretamente todas essas áreas.

- Essas diretrizes pelo visto não ajudaram muito o desenvolvimento da América Latina, o desemprego aumentou, a criminalidade cresceu em progressão geométrica, temos uma guerra civil não declarada na cidade do Rio de Janeiro e a concentração de rendas foi ampliada em muitos países. Se o mundo dependesse da diminuição da pobreza através da América Latina, ele estaria mais pobre. Isto só não ocorreu pelo desenvolvimento dos países asiáticos.

– Abaixo estão alguns dos resultados pela má qualidade na educação gerados pela política neoliberal aplicada no Brasil, que começou na gestão do ex-presidente (estilo Indiana Jones) Sr. Collor de Mello deposto por corrupção, filosofia neoliberal que continuou de forma ampliada na gestão do sociólogo e professor Fernando Henrique Cardoso, e agora na gestão do ex-metalúrgico Sr. Lula da Silva, o qual, infelizmente, despediu a pouco tempo o ministro da educação Cristovam Buarque por telefone:

1. - Com recursos financeiros reduzidos o resultado é a estagnação das IES públicas;

2. - Constatou-se a ampliação das IES privadas, muitas de qualidade duvidosa e em busca de lucro fácil;

3. - A expansão das IES privadas é de interesse governamental, pois há um aumento de matrículas com um custo mínimo para o governo do que ampliar o número das IES públicas, além de atender os ditames do Banco Mundial;

4. -As IES públicas passam a sofrer um processo permanente de desgaste financeiro, previamente articulado pelos adeptos da política econômica neoliberal;

5. - Foi constado que a LDB/96 foi aprovada por uma manobra obscura dos governantes da época, contemplando o substitutivo Darcy Ribeiro em detrimento do substitutivo Cyd Sabóia Lima, o qual realmente favorecia o bom desenvolvimento da educação no Brasil, além de representar os interesses do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, com a participação efetiva de diversos segmentos da sociedade organizada;

6. - A atual LDB favorece a ampliação de IES privadas em seu artigo 45: “A educação superior será ministradas em Instituições de Ensino Superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização” (Lei nº 9.394/96) – Atualmente as privadas são da ordem de 70% contra 30%, ou menos, das públicas;

7. - Ficou comprovada a estagnação de grande parte dos docentes e que muitos acabam transformando a “arte de ensinar” simplesmente em um “bico” para complementar a sua renda;

8. - A má qualidade do ensino superior em muitos estabelecimentos está intrinsecamente ligada na necessidade de uma mudança do pensamento educacional de muitos educadores que simplesmente repassam o conhecimento para ser memorizado como pronto e acabado, adotando uma postura influenciada pelo ultrapassado estilo jesuítico;

9. - A desmotivação crescente dos educadores torna-se mais evidente quando se observa que os acadêmicos egressos do Ensino Médio apresentam falhas graves no seu aprendizado, como baixo nível de conhecimentos e a ausência dos pré-requisitos indispensáveis para participar do curso universitário – Alguns chegam na IES mal sabendo ler e escrever;

10. - O PROVÃO por apresentar deficiências é substituído pelo SINAES, novo sistema avaliatório, que continua a ser um sistema de supervisão estatal, que tende a suprir à ausência do Estado no sentido de impulsionar as IES em melhorar a qualidade educacional oferecida.

- Qual a saída para começar a resolver o problema relacionado à má qualidade da educação, dos investimentos governamentais e da formação dos docentes do ensino superior no Brasil? Como alternativa, acreditamos que a melhoria dos investimentos dentro de princípios éticos e morais; sem descaminhos (corrupção); duplicação das universidades públicas; duplicação do percentual do PIB investidos na educação; obrigatoriedade do desenvolvimento amplo das pesquisas e tecnologias; da qualificação contínua dos professores e com dedicação integral nas IES públicas e privadas; da reestruturação salarial digna de um educador e da implantação de uma Responsabilidade Social Universitária ampla nas IES privadas e públicas são alguns dos pontos cruciais para adequar a educação superior no Brasil aos parâmetros exigíveis para que se possa participar, não como um país meramente fornecedor de matéria prima para os países dominantes, mas que possa participar como um país desenvolvido e enfrentar e achar soluções para as mazelas que um grupo de países impuseram às sociedades humanas do mundo através da globalização meritocrática, excludente e destruidora dos recursos não renováveis do nosso planeta, com o fito de enriquecer a alguns poucos em detrimento da grande maioria dos seus habitantes.

- Para o Brasil, esses parâmetros são algumas das condições essenciais para que ele seja caracterizado como desenvolvido, além da necessidade premente do controle e preservação ambiental, bem como dos seus recursos naturais. Isto só acontecerá com um sistema educacional dentro das diretrizes sugeridas pela Organização das Nações Unidas (ONU), da Carta da Transdisciplinaridade[2] (adotada pelo Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, Convento de Arrábida, Portugal, 2-6 novembro 1994 e II Congresso Mundial de Transdisciplinaridade 6 a 12 de setembro de 2005, Brasil) e com profissionais em continuo processo de aperfeiçoamento. Terão que ter uma ampla visão transdisciplinar e interagir com alunos egressos de um Ensino Médio competente que, preferencialmente, já lhes tenha incutido um alto senso crítico, ético, ambiental, social e profissional a ser ampliado durante o período da formação acadêmica.

- No Brasil precisam ser feitas mudanças de maneira urgente no sistema educacional superior e Ensino Médio. Essas mudanças precisam conjugar toda a sociedade como já ocorreu nos países onde o meio educacional foi à argamassa essencial para o desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico. Jamais poderemos de nos esquecer que as universidades podem ser compreendidas como organismos que indicam caminhos a serem seguidos, além de serem transmissoras de conhecimentos que serão aplicados na sociedade para um desenvolvimento equilibrado.

- A principal função de um centro educacional de nível superior seria então a formação de cidadãos e de profissionais competentes e críticos, capazes de transformar a realidade social, política, ambiental e econômica do cenário em que estão inseridos, para a melhoria da qualidade de vida dos seus concidadãos, inserindo-os como cidadãos do mundo e, portanto com a consciência de que o planeta é a nossa única morada para dar continuidade à própria vida, não só humana, mas de toda a biodiversidade planetária. A mudança teria que ser agora e de maneira contudente pelo governo do Brasil e da nova ordem mundial, pois a biodiversidade planetária está entrando em colapso.


[1] A reunião do G-7 (grupo de sete países mais ricos do mundo), em 1992, entrou para a história como Consenso de Washington, onde foram elaborados, os planos no campo político, econômico e social para garantir a hegemonia do grupo em nível mundial.

[2] Disponível em: http://www.abeg.org.br/comunicacoes/transdiciplinaridade.htm

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