segunda-feira, 10 de junho de 2013

TODOS NÓS SOMOS VÍTIMAS NAS MÃOS DE POUCOS



O recrudescimento do crime, obviamente, é derivado de um conjunto de causas, umas históricas e outras geradas pelo desenvolvimento e aprimoramento da sociedade de consumo das últimas décadas, voltada para a aquisição desenfreada de produtos[1] com o auxílio das novas tecnologias persuasivas de comunicação, principalmente as televisivas. Esta situação teve um aceleramento mais intenso a partir do fim do período conhecido como “Guerra Fria” e a partir daí temos mais uma tentativa de globalização da economia e com ela a inevitável globalização do crime, como, por exemplo, o tráfico de drogas, o tráfico de órgãos humanos[2], o tráfico de pessoas adultas e crianças para a prostituição e trabalho escravo[3].

Através dessas circunstâncias, milhares de pessoas, embora seduzidas pelo sistema de consumo, não estão incluídas na sociedade. Assim os excluídos geram outros excluídos que acabam gerando uma escória, a qual se torna uma mazela social com os horrores que vemos todos os dias pelas mídias jornalísticas[4].

Por outro lado, nestas últimas décadas, as causas históricas foram descaradamente pouco combatidas, aumentando ainda mais o exército de excluídos. Simplesmente basta ver que a concentração de rendas sempre favoreceu um número mínimo de pessoas, as quais hoje detêm a maior parte da riqueza nacional, o que acaba gerando um desequilíbrio social bem acentuado. Esta situação também favorece a criminalidade, pois o Estado, historicamente, nunca promoveu adequadamente a distribuição da riqueza, tanto é que ocupávamos em 2011, entre 134 países, a 73º posição no ranking de desigualdade das Nações Unidas[5] (Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade – IDHAD) e sem perspectivas de grandes mudanças a longo e médio prazo.

Por outra vertente, com o crescimento das grandes corporações empresariais, das quais muitas utilizam uma forma de capitalismo predatório, acabam por favorecer muitos políticos, que se elegem com uma generosa ajuda financeira desses grupos empresariais. O povo acaba sendo persuadido pelas mentiras e promessas dos candidatos com a ajuda de inúmeros meios midiáticos, principalmente a televisiva. Depois de eleitos, esses senhores acabam servindo a outros interesses bem mais lucrativos do que os reais interesses do povo e da Nação. A ética e a moral desaparecem nesse emaranhado de interesses em nome do poder e do lucro a qualquer preço e a corrupção se institucionaliza com ares de normalidade.

Nessa ciranda, o Estado vai se tornando mínimo e enfraquecido. O resultado é esse que vemos diariamente, principalmente nessas últimas décadas, com o avanço desproporcional da criminalidade organizada e terrorista, com a falência da educação, com a falência da saúde, com as incivilidades crescendo por todos os cantos e com o grotesco desvio do erário público, sem punição para com os meliantes que usam gravatas de seda italiana e ternos Prada, Armani, Giorgio, Guccia etc. E, o mais importante, muitos deles estão a elaborar o projeto de reforma do Código Penal e outras legislações que pouco ou nada irão ajudar nessa democracia condicionada, sequestrada e manipulada, que passa ao largo dos verdadeiros ideais democráticos, da ética e da moralidade.

Nesse sentido, em algumas áreas do crime, o fracasso e o cinismo do Estado é tanto que o próprio Senado Federal, por meio do Sr. José Sarney propõe modificações no Projeto do novo Código Penal (PLS 236/2012) para que os dependentes ou usuários de cocaína, crack, maconha e outras drogas possam ser produzidas dentro das suas próprias casas para o consumo, além de permitir sexo entre adultos e crianças até 12 anos de idade e legalizar o assédio e estimulo a prostituição no meio de adolescentes[6]. Tal atitude é no mínimo imoral e dispensa qualquer comentário já que o Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo, o primeiro em consumo de crack, um dos países que mais promove a pedofilia no mundo[7] e um dos mais violentos países do mundo.

E assim, as vítimas vão crescendo, em proporção geométrica, vitimizadas todos os dias das mais variadas formas pelos seus vitimizadores, seja pelo Estado, seja pelos criminosos que também não deixam de ser vítimas, frutos desse pérfido sistema econômico predador a que muitos chamam de “neocolonialismo”, “neoliberalismo” ou “Consenso de Washington”. Para alguns outros ainda de “corporatocracia”.

Enfim, a única e viável saída seria a erradicação dessa forma viral de capitalismo predatório para que possamos deixar para as futuras gerações, livres e de bons costumes, os verdadeiros ideais da democracia. Onde uma pessoa seria vista pelo que é e não pelo que tenha. Onde a sociedade seria baseada na sustentabilidade, no equilíbrio justo e perfeita para todos. Livres deste e de outros governos demagogos que irão surgir. Livres desses profissionais políticos hipócritas e imorais. Na realidade como iremos alcançar tudo isto? Novamente pelas Forças Armadas? Na mais pura realidade, a escolha será unicamente nossa. É esperar e ver.





[1] "Pensei no quanto a economia global  de hoje  se baseia no lixo, itens que não se prestam a qualquer propósito útil. Tanto plástico e metal desperdiçado. Grãos transformados em alimentos  sem qualquer valor nutritivo e acondicionados em embalagens extravagantes. Telefones  celulares, computadores laptop e outros gadgets eletrônicos que ficam obsoletos em poucos meses e têm  um componente-chave feito de um mineral raro conhecido como coltam que é extraído por africanos famintos." Perkins, John. Enganados, 2010, p. 170.  
[2] Para saber mais: Rim por Rim de Júlio Ludemir.
[3] Para saber mais: Economia Bandida de Loretta Napoleoni.
[4] Para saber mais: A sociedade Excludente de Jock Young.
[5] http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/11/111102_brasil_idh_jf.shtml
[6] http://www.anajure.org.br/o-codigo-do-mal/
[7] http://www.ac24horas.com/2012/06/30/brasil-e-o-campeao-em-numero-de-pedofilos/

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